sexta-feira, 23 maio, 2025
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Sofrimento mental não é loucura

Todos nós, em algum momento da vida, enfrentamos dores que não aparecem nos exames, não sangram, mas doem e muito. São tristezas que se arrastam, angústias que apertam o peito, medos que paralisam. Esse é o território do sofrimento mental, que ninguém vem, mas sente.

Ainda hoje, muitas pessoas que enfrentam esses sofrimentos são vistas com preconceito. A ideia de que “depressão é frescura” permanece enraizada culturalmente. Com ela, a ideia de que essas pessoas devem ser isoladas, sem poder expor seus sentimentos. Em casos mais graves, afastadas da convivência social. Essa lógica foi, por muito tempo, materializada através dos hospitais psiquiátricos, instituições que muitas vezes também excluíam e contribuíam para ofuscar a problemática do sofrimento mental.

A luta antimanicomial, ou seja, processo para reverter esse quadro e aos poucos eliminar os hospitais psiquiátricos e tornar o tratamento da saúde mental mais próximo à comunidade e à família, nasceu para eliminar essa exclusão. Ela afirma que ninguém deve ser privado de sua liberdade por um diagnóstico. Que toda pessoa em sofrimento tem o direito de ser ouvida, cuidada e acolhida em sua singularidade. Não se trata de negar a gravidade de certos quadros psíquicos, mas de recusar respostas desumanas.

Como psicóloga, vejo diariamente como o sofrimento mental pode ser agravado pela falta de escuta, de afeto e de amparo. Vejo também o poder transformador do cuidado em liberdade, aquele que acontece nas redes de saúde mental, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), nas famílias que se envolvem, nos profissionais que escutam sem julgar.

Nesse cenário, o papel da família e dos amigos é insubstituível. Quem convive com alguém que enfrenta um transtorno mental crônico precisa, antes de tudo, compreender que esse sofrimento não é uma escolha nem uma falha de caráter. Acolher, escutar sem julgamento, ajudar a manter rotinas possíveis, incentivar o tratamento e, acima de tudo, estar presente são formas eficazes de cuidado. Pequenos gestos de afeto e paciência podem ser âncoras para quem sente que está à deriva. A rede de apoio não substitui o tratamento profissional, mas é parte essencial dele.

Em tempos em que o adoecimento psíquico cresce silenciosamente, precisamos ampliar nossa capacidade de acolhimento e de empatia com as pessoas em sofrimento mental. Ele é uma forma de dizer que algo em nossa vida ou nosso mundo não está bem e muitas vezes, ninguém é culpado por isso.

Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini.

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