As pessoas que migram, mudam, de um lugar para outro, são apesar de tudo, normalmente, ricas em esperança. Esperança de que lá na frente possa ser bem melhor do que no passado. Não fosse essa teimosa esperança, não procurariam seguir em diante. São pessoas abertas ao futuro. No Município de Conceição da Barra, Estado do Espírito Santo passei várias vezes diante de uma propriedade abandonada. Na placa se lia: Fazenda Esperança. Apesar do nome, a sorte não fora companheira, pois já mudara para frente. E assim a vida do ser humano: feita de sucessos e insucessos. Muitas vezes por causa de toda uma situação imposta de fora, o futuro é incerto. Em nossa migração pelo mundo nos deparamos com incertezas e medos. De uma coisa, no entanto, podemos estar bem certos: temos que ter um alvo bem definido. A esperança é um sentimento profundamente humano, que guia nossas ações e nos impulsiona a buscar o melhor nas mais diversas situações. Ao longo da história, a palavra “esperança” carregou significados que vão além de sua definição literal, entrelaçando-se com aspectos psicológicos, filosóficos e socioculturais.
A palavra “esperança” tem suas raízes no latim “spes”, que significa “expectativa” ou “desejo“. Essa raiz etimológica revela a conexão intrínseca entre esperar algo e ter uma expectativa positiva em relação ao futuro. A esperança é muitas vezes considerada uma virtude, ligada à fé e à confiança nas possibilidades que a vida nos oferece.
Esperar é fascinante. Esperar por aquilo que ainda não vemos, por algo que imaginamos, exige preparação, requer envolvimento. É fascinante olhar para o nosso passado e perceber a quantidade de pequenas esperas, pequenos desejos. Alguns se realizaram, outros, não. Poderíamos fazer uma lista de situações e tempos pelos quais passamos e que nos envolveram em esperas.
Incerteza, falta de segurança e ausência de confiança em relação às próprias possibilidades: aqui temos sentimentos presentes na maior parte das pessoas. Na criança, em face das novidades que surgem ao seu redor. No adolescente, temeroso das transformações que ocorrem em seu corpo. No jovem, preocupado com a escolha de sua carreira profissional. No jovem casal, apreensivo com o futuro da família que pretende constituir. Na pessoa madura, ocupada com a manutenção do já alcançado. Na pessoa idosa, ansiosa na busca de sentido pelo que já passou e pelo que virá.
É normal que a gente se sinta inseguro em todas as fases da vida. Também é normal que a gente queira superar a incerteza, a falta de confiança. A questão, porém, está na forma de superar esse sentimento. Criar uma sensação de auto-suficiência até que pode ajudar, por algum tempo, mas não é solução. Tal sensação pode desaparecer a qualquer momento.
Algum tempo atrás foi notícia o fato de um pescador cujo barco afundara em meio a um temporal, ter conseguido nadar cerca de cinco quilômetros até chegar salvo à praia. Perguntado sobre como conseguira se orientar no meio da noite, enfrentando a fúria das ondas, o pescador respondeu: “Lá do fundo, eu via um ponto de luz, fixo à minha frente. Eu sabia que, se nadasse sempre ao encontro daquela luz, eu teria uma chance de me salvar. E foi essa certeza que me fez resistir e chegar até a praia.
Essa história vivida pelo pescador pode ilustrar com simplicidade a realidade que cada um, de nós podemos enfrentar e superar grandes barreiras.
* Filósofo e teólogo – professor de filosofia, antropologia e história. Professor da Rede Estadual de Educação pardinhorama@gmail.com |