O Evangelho deste domingo, 25 de maio, nos prepara para as celebrações da Ascensão e de Pentecostes (Jo 14,21-29). O texto faz parte do longo discurso de Jesus na noite em que foi preso. Às vésperas de sua paixão e morte, Ele se dirige aos discípulos pela última vez com palavras cheias de ternura e intimidade. Sua intenção é confortá-los, encorajá-los e entregar-lhes a continuidade de sua missão. É um momento profundo de despedida e de reflexão, em que Jesus confia aos discípulos — e a todos os cristãos — a responsabilidade de testemunhar a presença do Reino de Deus no mundo.
Na festa de Pentecostes, Jesus envia o Espírito Santo: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. Isso significa que Ele permanecerá conosco. O Espírito será a força vital da comunidade que se compromete a continuar a missão de Cristo. Esse é o testamento espiritual de Jesus: viver o novo mandamento do amor, ser sinal de unidade, cuidar uns dos outros, proteger a casa comum e glorificar o Pai que nos consola em nossas tribulações.
Outro grande dom do Ressuscitado à sua comunidade é a paz. No contexto judaico, “shalom” vai muito além do bem-estar – não se trata apenas da ausência de conflitos ou de uma paz interior. Jesus destaca que a paz que Ele oferece é diferente da paz que o mundo conhece. Para o evangelista João, o “mundo” representa tudo o que se opõe a Jesus. A verdadeira paz é estar unido a Ele, sem medo, abraçando seu projeto de vida: anunciar por toda parte o plano de salvação de Deus, que continua atuante por meio da comunidade cristã.
Humanizar o mundo requer que semeemos a paz e não a violência; que cultivemos o respeito, o diálogo e a escuta; que acolhamos o diferente e busquemos viver em harmonia. No entanto, não é qualquer um que pode ser portador da paz. Um coração cheio de ressentimento, intolerância ou fanatismo pode até mobilizar, mas não constrói a paz que vem de Deus.
A paz que Jesus oferece, junto ao dom do Espírito Santo, não é apenas um desejo ou promessa vaga — é um compromisso que exige cuidado e fidelidade. Cabe aos discípulos protegê-la e cultivá-la, pois a cidade humana deve refletir a nova Jerusalém, a cidade de Deus.
Participar da Eucaristia é receber de Jesus o mandamento do amor e o dom da paz. Na celebração da missa, o Senhor renova seu amor pela humanidade, repartindo sua Palavra e seu Corpo e Sangue. Tudo isso por amor ao projeto do Pai e à humanidade.
A vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes deve provocar em nós um verdadeiro renascimento espiritual. Somos convidados a invocar sempre o Espírito Paráclito — aquele que nos socorre, defende e consola. Só Deus pode nos garantir a felicidade eterna, que é dom para quem crê e molda sua vida no seguimento de Jesus, sustentado pela vida nova trazida pelo Espírito Santo.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |