No dia 20 de maio de 2025, terça-feira, foram comemorados os 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul. Eram 13 pessoas, pertencentes a três famílias, uma das quais lideradas por Luigi Sperafico, bisavô do deputado federal Dilceu Sperafico, de Toledo, que chegaram à Serra Gaúcha em 20 de maio de 1875.
A vinda dos primeiros imigrantes italianos vem sendo lembrada desde janeiro último, pela sua importância para colonização e desenvolvimento do Rio Grande do Sul e várias regiões do País, mas o principal evento aconteceu neste dia 20 de maio na comunidade de Mamma Gema Trattoria, na rodovia RS-444, no Vale dos Vinhedos, no município de Bento Gonçalves.
Em 20 de maio de 1875, os primeiro imigrantes italianos chegaram às localidades de Campos dos Bugres, atual município de Caxias do Sul, e Nova Milano, hoje distrito de Farroupilha, três meses após a partida do porto de Gênova, na Itália, numa longa jornada de mais de nove mil quilômetros.
Foram 13 pessoas de três famílias italianas, lideradas pelos colonizadores Luigi Sperafico, Stefano Crippa e Tommaso Radaelli. Vieram da Lombardia, na Itália, após embarcarem em jornada de trem de Milão a Gênova, antes de partir para o Brasil de navio.
O primeiro ciclo migratório iniciado na época, ocorreu entre 1875 e 1914, trazendo para o Rio Grande do Sul cerca de 84 mil pessoas, que deixaram a Lombardia, Vêneto e Tirol na Itália, em busca de oportunidades e fugindo das tensões que culminaram na 1ª Guerra Mundial.
O ápice da imigração inicial foi entre 1884 e 1894, com a chegada de mais 60 mil italianos, que ajudaram a povoar e desenvolver o Rio Grande do Sul. Hoje os descendentes de imigrantes italianos no Estado somam quatro milhões de pessoas.
Para isso, no período entre 1870 e 1872, o Governo Imperial do Brasil decidiu colonizar áreas da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, com o objetivo de ocupar regiões desabitadas em sua parte mais meridional e aumentar a produção de alimentos para abastecer as cidades vizinhas.
A Serra Gaúcha foi escolhida pela sua localização mais próxima da capital ou Porto Alegre e em 1874 foram estabelecidas as colônias de Conde d’Eu, em Garibaldi e Dona Isabel, em Bento Gonçalves.
Com esperança e promessas de nova vida nas terras sul-americanas, milhares de italianos decidiram deixar a pobreza da Europa para trás, abandonando suas terras natais, famílias e moradias. Diferentemente de outros imigrantes que se instalaram em São Paulo, as famílias italianas adquiriram terras devolutas do Império Brasileiro no Rio Grande do Sul, contribuindo para o desenvolvimento da região e do País.
Enfrentando muitos desafios, os pioneiros perceberam que a terra gaúcha precisava ser desbravada e cultivada. Com base em sua fé e espírito comunitário, eles começaram a desenvolver a região. Essa combinação de religiosidade, espírito comunitário e trabalho árduo se tornou a base de uma das regiões mais prósperas do País.
Assim as Famílias Sperafico, Crippa e Radaelli fizeram parte da história da colonização italiana no Rio Grande do Sul e diversas outras regiões do País, como o Oeste e o Sudoeste do Paraná. A bravura dessas três famílias italianas que chegaram ao Rio Grande do Sul em 1875, por sinal, já foi lembrada no berço da imigração no dia 20 de maio de 2015.
Os descendentes de famílias de Luigi Sperafico, Stefano Crippa e Tommaso Radaelli foram homenageados na praça de Nova Milano, 4º distrito de Farroupilha. A festa ocorreu em dia de sol e céu azul, bem diferente das adversidades enfrentadas nos três meses e oito dias de viagem dos imigrantes pioneiros, em precários navios a vela.


Os motivos da imigração
No final do século XIX, enquanto havia excedentes de população na Europa, o Brasil adaptou-se aos interesses da economia local modificando a política de contratação de mão-de-obra e exploração das terras. A maior parte do território brasileiro estava desabitada e sofria com a carência de mão-de-obra livre.
Com o processo imigratório, o Brasil teria seus problemas resolvidos pela substituição da mão-de-obra escrava na lavoura e pelo povoamento de áreas desocupadas, com ênfase ao desenvolvimento agrícola das regiões do Sul do País.
O território do Rio Grande do Sul foi definido após três séculos e meio da chegada de portugueses e espanhóis, mas pela ausência de recursos naturais do antigo sistema colonial, o Estado ficou meio século isolado dos interesses de Portugal e Espanha.
Os missionários jesuítas tiveram fundamental importância no desenvolvimento do Rio Grande do Sul, pois o comércio na região do Prata beneficiou nações europeias, enquanto a pecuária e a extração da erva-mate foram decisivas no processo de povoamento da região.
Até 1870, a cidade de Bento Gonçalves chamava-se Cruzinha. Nesse ano o Governo da Província desejando ampliar a área de colonização, por ‘acto’ de 25/05/1870 assinado por João Sertório, então presidente do Estado, o que hoje corresponde ao cargo de governador, criou a colônia de Dona Isabel, a qual contava com a abrangência de 32 léguas quadradas.
Ao chegarem à colônia os imigrantes eram recebidos por Comissão de Terras, que deixava muito a desejar. Os imigrantes eram alojados em barracões e se alimentavam de caça, pesca, frutos silvestres e do pouco que era fornecido pelo poder público, até se instalarem em seus próprios lotes rurais. Ao se instalarem, iniciavam agricultura de subsistência representada pelo cultivo de milho, trigo e videiras.
As primeiras indústrias artesanais, com características domésticas e utilização somente de mão-de-obra familiar, assim como o comércio ou troca e venda de produtos, surgiram com a produção de excedentes agrícolas e a criação de animais. A troca, compra e venda de produtos eram feitas na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas ou trilhas abertas na mata, demarcadas pelos próprios imigrantes.
Os primeiros imigrantes oriundos do Norte da Itália chegaram a Bento Gonçalves, então colônia Dona Isabel, no dia 24 de dezembro de 1875. Ocuparam esplanada onde hoje localiza-se a Igreja Cristo Rei, no Bairro Cidade Alta, onde aguardaram a distribuição das terras.
Desafios enfrentados
A vida dos imigrantes italianos nos primeiros anos não foi fácil. Eles enfrentaram:
– Isolamento geográfico: As colônias estavam distantes dos grandes centros urbanos e careciam de estradas e comunicação.
– Clima rigoroso: Os invernos frios da Serra Gaúcha eram uma novidade para os italianos, que precisaram adaptar suas práticas agrícolas.
– Adaptação cultural: A língua, os costumes e a religião católica ajudaram a manter a coesão entre os colonos, mas o contato com outras comunidades exigiu adaptações.
Apesar disso, a força de trabalho e a resiliência desses imigrantes permitiram o desenvolvimento das primeiras vilas, que rapidamente se expandiram e prosperaram.
Cultura e tradições
A influência italiana é evidente em vários aspectos da vida na Serra Gaúcha:
– Gastronomia: Pratos como massas, polenta, galeto e vinhos se tornaram símbolos da região.
– Arquitetura: As casas de pedra e madeira, típicas da colonização italiana, ainda podem ser vistas em muitas cidades e distritos.
– Festivais: Eventos como a Festa da Uva, em Caxias do Sul, e a Fenavinho, em Bento Gonçalves, celebram a cultura e as tradições italianas.
– Religião: A fé católica desempenhou um papel importante na construção de igrejas e capelas que hoje são marcos históricos da região.
Família Sperafico
O deputado Sperafico no exercício de seu 7º mandato de deputado federal e bisneto do colonizador Luigi Sperafico, é natural de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 26 de janeiro de 1948.
Juntamente com os pais, Ismael Vicente Sperafico (neto do imigrante pioneiro), e Olinda Joanina Rizzi Sperafico e irmãos, transferiu-se para Toledo, no Oeste do Paraná, ainda menino, com nove anos de idade, em 1957.
O pai falecido em 1983 era agricultor e comerciante. A mãe foi líder comunitária e com a morte prematura do marido se tornou a matriarca e grande referência da Família Sperafico, falecendo em 2007.