Meu amigo pós-graduado em estratégia voltou agora de Istambul desiludido com o futuro do Brasil. Jogou um balde de água fria nas minhas esperanças, cultivadas nos últimos 80 anos. “A Turquia está muito melhor que o Brasil” – constatou ele, acrescentando que em muitos aspectos já está acima da Europa ocidental. Segurança pública é ponto alto, transporte urbano moderno, estradas maravilhosas, trens velozes, educação eficiente, indústria florescente, construção civil aquecida, emprego, excelentes hospitais – bem estar, enfim. Há 30 anos – respondi a ele – eu destacava as mesquitas, o Bósforo e a maravilhosa comida. Agora ele descobre uma Turquia moderna, a despeito da ditadura que, observa ele, não tem PCC nem inquéritos de fim de mundo.
Sempre é bom comparar, para se ter uma referência. Por isso comparo. Faz mais de 80 anos que ouvi a frase de Stefan Sweig “Brasil, País do Futuro”. Mas o futuro nunca chega. Subimos um degrau e caímos outro. No mesmo dia em que meu amigo me jogou água fria, eu comentava que o escândalo de 6 bilhões da Previdência, com roubo institucionalizado de idosos fragilizados, havia decolado para 90 bilhões. Não deve ser surpresa alguma para quem votou num presidente que nomeou de novo o ministro que já havia saído pelos mesmos motivos em 2011. No fundo, quem trouxe tudo de novo foram os eleitores que escolheram o presidente condenado e descondenado.
Ou os eleitores não gostam do Brasil ou não gostam de si próprios e de suas famílias. Ou são apenas enganados. Não é de agora, mas sinto que está cada vez pior, nesses últimos 84 anos que tenho testemunhado – a maioria dos quais como jornalista. Hoje parece ser o mais desesperançoso dos tempos, principalmente pela ignorância que viceja, a partir de lares que não educam e de escolas que não ensinam. E péssimos exemplos dos nossos servidores, ditos autoridades. Esta semana fiquei calculando o volume ocupado por notas no total de 30 mil reais, que possam caber num porta-luvas de um SUV Jeep. O Jeep é de um desembargador, juiz do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. O dinheiro só pode ser de venda de sentença, já que não pode circular por banco. Pena para juiz venal deveria ser decuplicada, mas em geral é prêmio de aposentadoria antecipada.
Isso não escandaliza a mídia nem o povo que, passivamente, vive aquilo que nos dá fama na Turquia: carnaval, futebol, praia e …. não vou escrever, envergonhado. Nossos melhores valores são abafados por legiões de medíocres que promovem a igualdade por baixo. A ideologia do atual governo se resume em manter pobres os pobres, carentes os necessitados, porque só assim pode dominar seus votos. O que estelionatários fizeram com pensionistas e aposentados fragilizados, políticos fazem ao explorar a falta de conhecimento de milhões. Por isso os mantêm assim. E viva o Bolsa Família! O próprio Lula já confessou publicamente que quem sobe na vida deixa de votar no PT. É preciso, pois, conservar o proletariado para manter o poder. Todo poder, pois, à nomenklatura, graças ao proletariado. Tal como era na União Soviética, cujas glórias bélicas Lula festeja, mais uma vez, nesta semana.
Por Alexandre Garcia