247 – Em seu editorial, o jornal Folha de São Paulo defendeu de forma enfática a saída do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, apontando suposta omissão diante de um escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A crítica mais dura, no entanto, não parece apenas mirar a gestão previdenciária, mas pode carregar também um subtexto político: a tentativa de enfraquecer a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afastando um dos principais aliados — o PDT.
O jornal afirma que Lupi, desde o início do terceiro mandato de Lula, em 2023, não agiu com a diligência necessária diante de indícios e alertas sobre irregularidades na autorização de descontos em benefícios previdenciários. Segundo o texto, as primeiras advertências de órgãos de controle como Ministério Público Federal, TCU e CGU remontam a 2019, mas o Ministério da Previdência teria sido negligente em relação às denúncias e à operação do INSS. A situação teria se agravado em 2023 e 2024, com aumentos expressivos nas reclamações e nos valores descontados indevidamente de aposentadorias e pensões.

Para a Folha, a resposta do ministro foi tardia e insuficiente: ele só afastou um diretor responsável por retardar uma auditoria interna em meados de 2024, e as medidas efetivas de controle — como o uso de biometria para autorizar descontos — só começaram a valer neste ano. “Não faz sentido que o responsável administrativo e político pelo descalabro continue no ministério”, conclui o editorial.
No entanto, o ataque direto a Carlos Lupi, que é também presidente nacional do PDT, levanta questões sobre os interesses políticos por trás da linha editorial do jornal. Conhecido por seu histórico de oposição ao presidente Lula, especialmente desde o golpe de 2016 e ao longo da operação Lava Jato, a Folha tem se colocado como uma voz crítica constante ao atual governo, mesmo quando este adota medidas de recomposição democrática e reconstrução do Estado social.
A ofensiva contra Lupi pode servir, assim, a um projeto político mais amplo: fomentar fissuras entre o PT e o PDT, isolando Lula e favorecendo o lançamento de uma candidatura de “centro-esquerda” em 2026 — provavelmente encabeçada por Ciro Gomes. Ciro, que nas últimas eleições travou embates duros com Lula e perdeu influência sobre sua própria base, depende do reposicionamento de seu partido para voltar ao protagonismo nacional.
Ao sugerir a demissão de um ministro que ocupa uma posição-chave na estrutura do governo e no arranjo da coalizão, a Folha intervém não apenas no debate sobre ética administrativa, mas também nas articulações políticas que definirão o futuro das esquerdas no Brasil. A crítica a Lupi, ainda que baseada em problemas reais de gestão, pode servir ao propósito de minar a aliança entre PT e PDT e fortalecer projetos eleitorais concorrentes ao de Lula. O caso, portanto, vai além da administração previdenciária: é também uma batalha simbólica no tabuleiro político que já se movimenta para 2026.