Como as mudanças climáticas estão nos impondo estiagens ou secas prolongadas, atingindo diferentes atividades da agropecuária e até mesmo matas nativas e a irrigação depende de recursos elevados e reservas de água, a solução para essas tragédias pode estar no avanço da ciência e da tecnologia. É o caso de chuvas artificiais, utilizadas por países do Oriente Médio, cujos territórios são ocupados por desertos. A técnica, que também pode ser chamada de semeadura de nuvens, com bombardeamento e nucleação artificial de massas de ar, não é propriamente nova. Ela foi usada em situações bastante curiosas, como durante a Olimpíada de Pequim, em 2008, para fazer chover antes de competições e evitar que o clima afetasse as disputas. O conceito básico para as chuvas artificiais é fazer com que as partículas de água das nuvens se juntem, formando gotas e levando às precipitações.
Para que ocorra essa aglutinação normalmente são usados sais de prata, como o iodeto de prata. Isso ocorre porque essas substâncias têm geometria similar as de cristais de gelo. Outras possíveis substâncias que podem ser usadas são o cloreto de sódio, o dióxido de carbono sólido ou gelo seco, água e carvão ativo. Esses sais funcionam como núcleos de condensação, agregando gotículas de água até que formem gotas mais pesadas, que se precipitam na forma de chuvas. Esse bombardeamento pode ser feito tanto a partir do céu, com o uso de aviões ou foguetes que dispersam as substâncias aglutinadoras no meio de nuvens ou usando canhões antiaéreos para disparar as substâncias na sua direção. Mesmo assim, não é qualquer nebulosidade que pode ser bombardeada para que haja chuva. A técnica só é eficiente caso a nuvem já tenha vapor de água em quantidade elevada e suficiente para a precipitação.
Há também outras variáveis em jogo, como o tamanho da nuvem e a sua temperatura. As nuvens cumulus, que se formam no alto de montanhas, são as mais indicadas para esse procedimento. Outro ponto que merece atenção é que, ao contrário do que o nome pode dar a entender, a semeadura de nuvens não cria chuva, mas só antecipa a precipitação. Assim, em lugares onde quase não há nuvens no céu ou onde elas não tenham vapor d’água, a semeadura de nada adiantaria. Para completar, as chuvas artificiais podem gerar problemas ambientais, já que produtos usados como aglutinadores se misturam à precipitação provocada por eles, trazendo riscos a organismos vegetais e animais. O iodeto de prata, por exemplo, pode se acumular no ambiente.
Em seres vivos, pode causar argiria, condição em que olhos e pele adquirem coloração azulada. Em micro-organismos, pode causar queda da atividade anaeróbica. Por fim, provocar chuvas artificiais pode ainda afetar o clima de maneira indesejada e acabar causando desastres, como inundações ou enchentes. No Paraná e especialmente no Oeste do Estado, onde o agronegócio se destaca na produção, transformação e exportação de alimentos, com recursos hídricos e florestas naturais preservadas que contribuem para geração de grandes volumes de nuvens, a alternativa das chuvas artificiais não deve ser desprezada. Os avanços das ciências e das tecnologias podem no futuro viabilizar o uso da técnica na região e em boa parte do País, beneficiando produtores e consumidores. Diante da insegurança e temores das mudanças climáticas é preciso acreditar e investir em novas oportunidades.
Dilceu Sperafico* é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br |