Estamos concluindo a oitava da Páscoa, o grande “dia que o Senhor fez” para nós e para a nossa salvação. A experiência das primeiras testemunhas do Ressuscitado nos lembra que a alegria da ressurreição não é acessada de maneira direta e linear. O encontro com o Senhor é um grande mistério, que se cumpre na medida em que permitimos que a força imparável de um amor capaz de se doar mesmo em meio às trevas do pecado e da morte entre nas “portas fechadas” (Jo 20,19) de nossa história: “Não temais! Estive morto, mas agora estou vivo para sempre” (Ap 1,18).
Os relatos das aparições, com os quais nos alegramos durante os últimos dias, nos mostraram um Senhor ressuscitado que, em vez de se manifestar de maneira clamorosa e convincente a muitos, preferiu revelar-se com extrema modéstia a poucos, mostrando-se sem pressa e por meio de uma série de sinais: as ataduras no chão, o coração ardente, a rede que recolhe os peixes, o testemunho das mulheres. Apresentando-se sem espírito de vingança, oferecendo de fato os sinais de um amor vivido livremente – “suas mãos e seu lado” –, o Senhor Jesus entra no reino da tristeza com a grande esperança de poder abrir novamente as portas da confiança em si mesmo e nos outros: “E os discípulos se alegraram quando viram o Senhor” (Jo 20,20). O sinal inconfundível dessa esperança redescoberta é assegurado pelo mandato de ser testemunha da revelação de Deus, que o Senhor não tem intenção de retirar de seus amigos: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21).

Nenhuma censura, nenhuma pregação, nenhuma consideração. Os gestos do Ressuscitado são tão essenciais que não podem, de forma alguma, ser mal interpretados: “E, depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,22-23).
É assim que a ressurreição se manifesta na comunidade de fiéis, como um alívio do pecado e uma libertação dos medos. O Ressuscitado está bem ciente da pobreza de sua igreja, mas também sabe que nessa humanidade fraca e frágil está o poder misterioso do testemunho autêntico. Justamente aqueles que experimentaram a limitação e o pecado podem se tornar guardiões do perdão de Deus.
Excluído dessa primeira expansão de vida e alegria está Tomé, o discípulo que representa bem nossa incapacidade de nos entregarmos imediatamente à renovação da vida. Como ele, nós também, às vezes, não encontramos outro caminho a não ser ficar isolados, esperando que algo ou alguém venha nos despertar da sonolência de uma resignação que nós mesmos não gostaríamos de ter sobre nós: “Vimos o Senhor!” (20, 25). Tomé reage com uma timidez que, no entanto, trai o grande desejo de poder entrar em um novo relacionamento com o seu Senhor. De fato, “oito dias depois” (20,26) ele decide “ficar junto” (At 5,12) com os outros discípulos: “Oito dias depois, os discípulos estavam novamente em casa e Tomé estava com eles” (Jo 20,26). Finalmente o Senhor aparece a Tomé para introduzi-lo no mistério do seu amor transpassado e ressuscitado.

Não separados, mas juntos com os nossos irmãos e irmãs, entramos na alegria da ressurreição, que apaga os medos do coração e relança a coragem de uma vida santa, digna do nosso desejo e do projeto de Deus.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |