Estamos vivendo uma época um tanto inusitada, jovens com formação acadêmica elevada, acesso praticamente irrestrito à informação e, ao mesmo tempo, inseguros perante os desafios da vida adulta. Muitos permanecem por anos na casa dos pais, mesmo com idade e condições de seguir seus próprios caminhos. O medo de errar, de se frustrar, de tomar decisões difíceis e até mesmo o receio de sair de casa e encarar as incertezas travam uma geração inteira em uma espécie de adolescência prolongada.
Embora fatores econômicos e sociais também influenciem esse cenário, é impossível ignorar o grande peso das relações familiares, ou seja, a forma com que os pais desse jovem adulto adolescente lidam com as questões relacionadas à autonomia. Muitos pais, impulsionados pelo amor aos filhos e pelo desejo de proteger, acabam criando filhos dependentes emocional e funcionalmente. São pais que resolvem tudo, que evitam dizer “não”, que acolhem até o excesso e que, muitas vezes, não percebem que esse cuidado exagerado impede os filhos de amadurecer.
A superproteção, por exemplo, é uma armadilha invisível. Quando os pais se antecipam às dificuldades e evitam que os filhos sintam frustração, também evitam que eles desenvolvam resiliência e autoestima. O jovem, acostumado a ter tudo resolvido por alguém, cresce com medo de errar, inseguro para decidir, e com baixa tolerância às contrariedades naturais da vida. Por outro lado, há também os pais que cobram demais e acolhem de menos, exigindo maturidade que a idade não comporta e desempenho exemplar, sem muitas vezes ofertar o suporte emocional. Excesso de proteção está na contramão da independência, cria jovens ansiosos, com medo de falhar sempre.
E o que fazer para quebrar esse ciclo? A resposta passa pelo equilíbrio. Criar filhos autônomos não significa deixá-los soltos, tampouco resolver tudo por eles. É preciso estar presente, sabendo respeitar a individualidade, ouvir e principalmente, deixar que tentem, errem e aprendam. Muitos pais sofrem ao ver os filhos enfrentando dificuldades e o impulso de protegê-los é natural. Mas amar, nesse caso, é também permitir que o outro enfrente a vida, mesmo com os tropeços. A dor faz parte do processo de amadurecimento, e evitá-la é somente adiar o inevitável.
Pais que criam filhos para o mundo ensinam que a vida pode ser dura, mas que eles são capazes. Pais que entendem seu papel como guias oferecem o maior presente que alguém pode dar, a liberdade de ser quem se é, com responsabilidade, coragem e autonomia.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |