Vivemos em uma cultura que valoriza o desempenho, a produtividade, o controle. Somos ensinados, desde muito cedo, a buscar ser “o melhor”, a “não demonstrar fraqueza”, a “seguir em frente” mesmo quando a vontade é de explodir, desistir ou mesmo sumir. Com esse cenário exigente, cresce o número de pessoas que se sentem esgotadas por não atingirem os padrões impostos. A autocompaixão é uma aliada capaz de transformar a nossa relação conosco e com os outros.
Para desfrutar da autocompaixão, é necessário se libertar de alguns mitos. O primeiro deles é que ser gentil consigo é uma fraqueza. Pelo contrário, é uma coragem emocional, uma escolha consciente de sair do ciclo de autocrítica constante e abrir espaço para acolhimento interno.
Outro mito a ser vencido é compreender que autocompaixão não é se vitimizar, nem fugir de responsabilidades. É olhar com honestidade para as próprias dores, erros e limites e, ainda assim, escolher se tratar com dignidade.
Na clínica, vejo adultos esgotados, com sintomas de ansiedade, depressão ou vazio existencial, que carregam uma voz interna dura e exigente. Muitos se tratam de forma que jamais tratariam um amigo. Diante de um erro, dizem a si: “Você é um fracasso”. Diante da tristeza: “Você não tem motivo para sentir isso”.
Essa postura severa, além de injusta, intensifica o sofrimento. A mente cansada não precisa de mais cobranças e mais cobranças, precisa de cuidado e atenção.
Para praticar a autocompaixão e se oportunizar viver de forma mais leve, entenda que a autocompaixão é ser bondoso consigo mesmo, tratando-se com gentileza e ao mesmo, eliminando o julgamento. É reconhecer que todos falham, sofrem.
A prática de mindfulness ou atenção plena é muito bem-vinda nesses casos. É poder prestar atenção ao que se sente, sem negar ou exagerar. Olhar para si e perceber que, apesar de ter errado, o erro não define quem você é. É admitir o sofrimento e decidir cuidar dele.
Na terapia, seja com crianças ou adultos, o estímulo à autocompaixão é parte essencial do processo de cura. É ela que abre espaço para a reconstrução da autoestima, para o enfrentamento do medo, para o estabelecimento de limites saudáveis.
Talvez você não tenha aprendido a ser gentil consigo. Talvez a autocrítica tenha sido, por muito tempo, sua forma de tentar se proteger. Mas isso pode mudar reconhecendo o que sente, sem julgar, estabelecendo um diálogo interno com mais empatia, permitindo-se tréguas. Escolha esse passo da gentileza e mantenha uma relação mais saudável consigo mesmo.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga. Atende crianças e adultos na Clínica Bambini. |