É uma decisão praticamente unânime entre os comunicadores, os mestres em assuntos internacionais e as classes culturais que produzem manifestos, mas não produzem cultura: o fenômeno mais apavorante do mundo de hoje, a maior ameaça, acima até da “emergência climática”, é Donald Trump. Na verdade, você já está morto e ainda não sabe. O tsunami vem aí com tudo, e não há como escapar, nem para onde – pelo cheiro da brilhantina, vai pegar até o próprio Trump. Para os analistas, ele é um óbvio psicopata, primitivo, selvagem e solto na praça. Está cometendo um suicídio, e levando o Brasil e o mundo para o saco junto com ele.
É uma visão histérica. Mas a experiência mostra que examinar os fatos, e raciocinar logicamente em cima deles, sempre dá muito mais trabalho do que ter uma crise de nervos. O que Trump e os Estados Unidos, nos 45 dias que se passaram após a sua posse, realmente fizeram? E por que, de um ponto de vista racional, qualquer uma dessas decisões de Trump ameaça a sobrevivência do Brasil e do planeta? Troque-se o facilitário da histeria pelo esforço de pensar – as realidades que sairão daí não têm nada a ver com o fim do mundo que lhe estão apresentando todos os dias.
Os Estados Unidos são a única grande potência de verdade do mundo – e só pode ser do interesse dos brasileiros ficar no melhor dos climas com uma potência desse tamanho. Quantos brasileiros, digamos, querem mudar para a China? E quantos querem mudar para os Estados Unidos?
Antes de mais nada, vale a pena observar, assim en passant, que os cenários de catástrofe universal saem de uma premissa errada: a de que o mundo, tal como se encontra hoje, está muito bem resolvido e que Trump vem aí decidido a ameaçar e detonar o nosso atual paraíso. Até uma criança de dez anos de idade sabe que isso é uma bobagem master. As coisas não vão bem – na guerra Rússia-Ucrânia, no genocídio serial de uma tribo contra outra na África, na importação da miséria e de miseráveis pelo Primeiro Mundo, nos paradoxos da tecnologia, na economia em geral, na falência fiscal das nações, e por aí vamos. Trump quer mudanças pesadas: qual é a prova de que elas estão erradas ou que ameaçam o futuro?
Por J.R. Guzzo