Entre as tantas atrações do 37º Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel entre os dias 10 e 14 de fevereiro, com mais de 600 expositores, mais de sete bilhões de reais em movimentação financeira e mais de 400 mil visitantes, esteve a Vitrine de Tecnologias, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com livro, exposição de registros e variedades selecionadas sobre o cultivo da soja no País e no mundo. A leguminosa, como sabemos, é o principal produto do agronegócio brasileiro, gerando óleo, azeite, biodiesel e farelo para o abastecimento do mercado interno e exportações, inclusive através da alimentação de bovinos, suínos e frangos na produção de proteínas animal. No País, a safra de soja 2024/2025 deve atingir 22,3 milhões de toneladas de grãos, volume 15,4% maior do que na colheita anterior.
No Brasil, os primeiros plantios comerciais ocorreram em 1924, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, nossa terra natal, festejados na Festa Nacional da Soja (Fenasoja), do ano passado, naquele município, mas no planeta a leguminosa é cultivada na China há mais de quatro mil anos. Para recordar e valorizar essa trajetória do grão no Brasil, a Embrapa Soja selecionou 16 cultivares ícônicas de diferentes épocas, para expor no Show Rural Coopavel. O objetivo foi mostrar a evolução do grão, cujo início do plantio comercial no Brasil ocorreu há 100 anos e celebrar os 50 anos da Embrapa Soja, neste ano de 2025. Na Ásia, há quatro mil anos, a soja era planta selvagem, que crescia na Costa Leste do continente. Nesse período, a leguminosa foi domesticada pelos chineses, o que a torna uma das culturas agrícolas mais antigas do mundo. A soja semeada atualmente tem a constituição genética da ancestral chinesa, mas ela é diferente tanto em aparência quanto em características morfológicas e de produção, destacam especialistas.
Conforme o livro “A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C”, editado pela Embrapa Soja, a leguminosa chegou ao Brasil pela Bahia, em 1882, quando foram realizados os primeiros testes com cultivares trazidas dos Estados Unidos, mas não houve sucesso. Somente após chegar ao Rio Grande do Sul em 1914 para testes e a partir de 1924 com plantios comerciais, foi que a soja apresentou adaptação ao solo brasileiro. A cultura, no entanto, só obteve importância econômica na década de 1960. Até o final da década de 1970, os plantios comerciais de soja no mundo restringiam-se a regiões de climas temperados e subtropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º. Os produtores brasileiros tiveram que aproveitar cultivares dos Estados Unidos porque eram adaptadas apenas para o solo e clima da Região Sul do Brasil.
Com as pesquisas da Embrapa foram rompidas essas barreiras, desenvolvendo variedades adaptadas às condições tropicais com baixas latitudes. Segundo especialistas, a primeira cultivar para o Brasil Central foi a Doko, lançada em 1980. Depois disso, o programa de melhoramento genético de soja continuou gerando novas cultivares com alto rendimento, sanidade elevada e adaptadas às diferentes regiões do Brasil. Para tornar o País o maior produtor mundial de soja, com 147,35 milhões de toneladas na safra 2023/2024, foi preciso muitas pesquisas para adaptar o grão ao cultivo em região tropical. A Embrapa Soja teve participação ativa nessa evolução, desenvolvendo em 50 anos cerca de 440 novas cultivares.
Dilceu Sperafico* é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br |