Neste domingo da Apresentação do Senhor, a liturgia da Palavra nos convida a contemplar a fidelidade do Deus encarnado à história do seu povo e a fé com que esse povo responde à sua visita. O Filho de Deus não desce do céu como um estranho à experiência humana, mas entra no mundo nascendo do ventre de uma mulher. Ele escolhe se unir intimamente à humanidade, sendo acolhido no calor de uma família, e se vincula de maneira especial ao destino do povo judeu, assumindo sua língua, suas instituições, seu culto e seus ritos. Entre estes, abraça também o rito da apresentação no templo, em obediência à Lei, onde está escrito: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (Lc 2,23).
Quem apresenta o menino Jesus ao Senhor é Maria, junto com José, que lhe dá plena acolhida em sua casa, para que, com toda legitimidade, Ele possa ser chamado filho de Davi e filho de Abraão. Assim, o Filho de Deus passa a fazer parte daquela descendência inumerável que o Senhor prometera a Abraão, ao revitalizar sua esperança e abrir diante dele o horizonte, já inimaginável, da paternidade: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de contá-las… Assim será a tua descendência” (Gn 15,5).
À promessa do Deus fiel, Abraão acreditou e, junto com Sara, sua esposa, deu cada passo pela fé, caminhando rumo ao cumprimento das promessas feitas pelo Senhor, mesmo no tempo da prova, quando lhe foi pedido que oferecesse seu filho.
Como Abraão e Sara, Maria e José também experimentam a obediência da fé e afirmam o primado de Deus em suas vidas ao apresentar seu filho no templo. Apesar de pobres em recursos, são ricos em fé, sendo acolhidos pela voz profética dos humildes que, com os olhos da fé, sabem penetrar o mistério, contemplá-lo e acolhê-lo.
Ana, profetisa que vive no templo servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações, tem olhos cheios de fé que a tornam anunciadora jubilosa da vinda do Redentor: falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.
Simeão, homem justo e piedoso, explode na alegria daquele que, pela fé, vê na fragilidade de uma criança o Salvador: Os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel.
Graças à sua especial intimidade com o Espírito de Deus, Simeão percebe na apresentação do menino no templo a visita da consolação divina e reconhece em Jesus o Cristo do Senhor (Lc 2,26), colaborador privilegiado da obra divina, não apenas entre o seu povo, mas também entre as nações. O servo do Senhor é luz, glória, mas também sinal de contradição (Lc 2,34), destinado a revelar as intenções dos corações e a ser pedra de tropeço para muitos. Esta profecia anuncia a rejeição que Jesus enfrentará, uma rejeição que será como uma espada para Maria.
A liturgia deste domingo nos lembra que a escola da fé não é uma marcha triunfal, mas um aprendizado paciente que nos pede, a cada dia, que acolhamos o trabalho da Palavra do Senhor. Esta Palavra deseja formar em nós um coração capaz de discernir e acolher nossa vocação pessoal e a dos outros. A família de origem e a comunidade eclesial são espaços privilegiados para viver esse aprendizado da fé, que nos permite crescer na relação com Deus e aceitar a espada que atravessa os relacionamentos, testando-os, purificando-os e amadurecendo-os, para que possamos amar os outros com liberdade e gratuidade.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |