Empresa desenvolveu sistema de autobiometria facial para CNH digital, mas futuro incerto levanta debate sobre impacto na tecnologia pública do Paraná
O Departamento Estadual de Trânsito do Paraná (Detran-PR) lançou recentemente uma nova funcionalidade que permite a atualização da foto da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por meio de autobiometria facial. A novidade, que facilita a vida dos condutores ao permitir que enviem uma selfie diretamente pelo aplicativo do Detran, foi amplamente divulgada como um marco na modernização dos serviços do órgão. Contudo, um detalhe fundamental passou despercebido: o desenvolvimento integral do sistema foi realizado pela Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar).
Responsável por prover soluções tecnológicas inovadoras para diversas áreas do Governo do Paraná, a Celepar tem desempenhado papel central na transformação digital do Estado. Projetos como o sistema de gestão hospitalar para a Secretaria de Saúde (SESA), plataformas para emissão de documentos na Secretaria de Segurança Pública (SEFA) e o aplicativo do Nota Paraná são exemplos do impacto positivo gerado pela empresa. Com uma equipe altamente qualificada, a Celepar garante que serviços essenciais cheguem à população de maneira eficiente, segura e integrada.
Apesar desses avanços, a Celepar se encontra no centro de um debate sobre sua privatização. O Governo do Estado defende que a venda da companhia pode atrair investimentos e ampliar a eficiência operacional. Contudo, preocupações surgem quanto à continuidade do compromisso com soluções públicas de qualidade.
De acordo com integrantes do Comitê de Funcionários Contra a Privatização da Celepar, há riscos significativos associados à mudança. “A Celepar não é apenas uma empresa de tecnologia. É uma extensão do governo na prestação de serviços essenciais. Privatizá-la significa submeter os interesses públicos à lógica de mercado, onde o lucro é prioritário”, destaca.
Pela lógica governamental, sob gestão privada, a Celepar poderia potencialmente expandir seus horizontes, oferecendo serviços também para o setor privado e aumentando sua competitividade no mercado de tecnologia. No entanto, a principal preocupação é que soluções desenvolvidas para as secretarias e órgãos do Governo sejam escanteados ou deixados em segundo plano. Questões como o custo de manutenção de sistemas e a segurança de dados sensíveis também são levantadas.
“Quando uma solução como a autobiometria facial é desenvolvida internamente, o Governo tem total controle sobre o processo. Uma empresa privada pode não garantir o mesmo nível de dedicação aos objetivos públicos”, alerta.
Por outro lado, defensores da privatização acreditam que o modelo público pode limitar o crescimento da empresa. Eles argumentam que, com a abertura ao setor privado, a Celepar poderia se tornar uma referência nacional em tecnologia, criando soluções também para outros estados e empresas.
O futuro da Celepar será determinado por um delicado balanço entre os benefícios da eficiência privada e o compromisso com as necessidades públicas. A decisão sobre sua privatização transcende questões econômicas. Trata-se de definir como o Estado do Paraná pretende gerenciar sua evolução tecnológica e a qualidade dos serviços que oferece aos cidadãos.
Com base nos exemplos já implementados, é inegável que a Celepar tem sido um pilar da modernização do Paraná. Cabe agora ao governo e à sociedade decidir se esse legado será fortalecido por meio da gestão privada ou preservado sob o controle público, garantindo que a tecnologia continue a servir, antes de tudo, aos interesses da população.