Por Lorenzo Carrasco
O presidente Donald Trump não perdeu tempo para começar a cumprir uma das suas principais promessas de campanha, a de sepultar as agendas ambiental e “woke” de seu antecessor Joe Biden.
Já no discurso de posse como o 47º presidente estadunidense, ele já disse ao que veio, afirmando a intenção de encerrar as pautas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), tão caras aos democratas e aos globalistas, inclusive nas Forças Armadas. Segundo ele, as novas políticas irão reconhecer o sexo biológico das pessoas, e não uma identidade de gênero adotada por elas.
“Também encerrei a política governamental de tentar fazer uma engenharia social de raça e gênero em todos os aspectos da vida pública e privada. Faremos uma sociedade que não vê cor e é baseada no mérito. A partir de hoje, a política oficial do governo dos Estados Unidos será a de que existem apenas dois gêneros: masculino e feminino”, disparou ele.
Ao mesmo tempo em que detona a cada vez mais desmoralizada agenda “woke”, Trump promete reverter leis e regulamentos ambientais que impõem restrições a uma série de atividades econômicas, começando pela exploração petrolífera e pelos dispendiosos incentivos às chamadas energias “limpas”, como a eólica, principalmente, marítima (offshore).
Entre as dúzias de ações executivas que assinou logo após ser empossado, destacou-se a retirada dos EUA do Acordo de Paris, medida que poderá desfechar um golpe mortal na igualmente combalida pauta da “descarbonização” da economia mundial.
Na área energética, anunciou a declaração de uma emergência nacional, o que permitirá ao governo federal uma redução dos requisitos de licenciamento ambiental para projetos de energia, acelerar a construção de novas usinas geradoras e a flexibilização das restrições às exportações dc combustíveis fósseis, um acentuado contraste com as políticas de Biden, alinhadas com a agenda da “descarbonização”.
No discurso, anunciou: “Vamos perfurar, baby, perfurar. Com minhas ações de hoje, vamos acabar com o Green New Deal [de Biden] e vamos revogar o mandato dos veículos elétricos, salvando nossa indústria automobilística e cumprindo minha promessa aos grandes trabalhadores da indústria automotiva estadunidense. Em outras palavras, você poderá comprar o carro de sua escolha.”
E o “efeito Trump” já se mostrou nas saídas de grandes bancos e fundos de gestão de ativos – JP Morgan, Citigroup, Bank of America, BlackRock etc – das respectivas entidades voltadas para o engajamento da alta finança globalizada com a pauta do “carbono zero” (net zero), como a Net Zero Banking Alliance (NZBA) e a Net Zero Asset Managers (NZAM).
A deserção mais emblemática talvez seja a da própria Reserva Federal, o banco central privado dos EUA, que acaba de retirar-se da Rede de Bancos e Supervisores Centrais para o Esverdeamento do Sistema Financeiro (NGFS, em inglês), entidade criada em 2017 para catalisar a “financeirização” da agenda ambiental e climática mundial. De acordo com a nota oficial do anúncio: “Embora o Conselho [da Reserva Federal] tenha valorizado o envolvimento com a NGFS e seus membros, o trabalho da NGFS tem se expandido progressivamente em termos de escopo, abordando uma gama mais ampla de questões que estão além do mandato legal do Conselho.”
Talvez, alguns pensem que os gestores da Reserva Federal tardaram um pouco em perceber tal descompasso funcional, mas bem mais provável é que, como ocorreu com os megabancos, a saída tenha sido mais um resultado da onda de choque trumpiana.
De forma previsível, o aparato ambientalista internacional acusou o golpe no queixo. No Brasil, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, lamentou:
“Seus primeiros anúncios vão na contramão da defesa da transição energética, do combate às mudanças climáticas e da valorização de fontes renováveis na produção de energia. São o avesso da política guiada pelas evidências trazidas pela ciência e do bom senso imposto pela realidade dos eventos climáticos extremos que ocorrem, inclusive, em seu próprio país… Serão tempos desafiadores para o mundo inteiro. Resta enfrentá-los com informação, compromisso com a vida e capacidade de negociação política.”
Já o coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, vocalizou o grande temor dos “descarbonizadores”: “uma reação em cadeia, levando outros países a sair [do Acordo de Paris], o que enfraqueceria o esforço multilateral.”
De fato, para o Brasil, a reorientação das políticas ambiental e energética estadunidenses deverá promover um contraste com as ilusórias promessas da ênfase em fontes energéticas “limpas” e intermitentes – as cada vez mais problemáticas eólicas e solares. Sem falar nas restrições à exploração petrolífera na Margem Equatorial Brasileira, que Marina e seus fiéis escudeiros do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sustentam há dois anos, com a esperança de seguir protelando-as até a realização da conferência climática COP30 em novembro, em Belém (PA), quando antecipam que Lula não terá condições políticas para aprovar. A rigor, uma ostensiva sabotagem à Petrobras e ao próprio desenvolvimento nacional.