Celebramos o 3º Domingo do Tempo Comum, Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco em 2019. As leituras deste domingo (26/01) exaltam a Palavra de Deus. Pois tanto na 1ª leitura quanto no Evangelho, a Palavra assume a forma de uma solene Liturgia da Palavra, proclamada primeiro pelo escriba Esdras e pelos levitas (1ª leitura), depois por Jesus mesmo, a Palavra de Deus encarnada (Evangelho).
O Evangelho deste domingo é constituído por dois textos diferentes. No primeiro (1,1-4), São Lucas apresenta um sumário sobre a atividade evangelizadora de Jesus. Ele deixa claro que o Evangelho possui fundamentos históricos relatados por testemunhas oculares que viveram com Jesus. Sua intenção é recordar à Igreja de Jesus a importância da fidelidade às raízes e a solidez desta doutrina recebida de Jesus, através do testemunho legítimo que foi transmitido pelos apóstolos.
Na segunda parte (4,14-21), Jesus está na sinagoga de Nazaré e é convidado a ler um texto dos profetas e fazer um comentário. O texto é do profeta Isaías que descreve como o Messias realizará sua missão. É o início da vida pública de Jesus: de Nazaré para todo o país.
O mistério da palavra profética encontra a sua realização em Jesus. Ele fala do que recebeu do Pai, nunca fala de si mesmo. A sua palavra como a palavra de Deus no Antigo Testamento é eficaz, é uma força que realiza prodígios, desde a cura de doenças até o perdão dos pecados.
Porém, Jesus não é só um profeta. Enquanto Filho de Deus, Ele é a Palavra de Deus em pessoa. Ele existia antes da criação de tudo; Ele é palavra reveladora, que brilha nas trevas do mundo para conduzi-lo ao conhecimento de Deus; Ele é o Verbo feito carne, acessível à experiência do ser humano: “Nós vimos a sua glória”. Só podemos ter acesso ao Pai através de Jesus. Através d’Ele ficamos repletos de graça e verdade.
Jesus não deixa indiferente aqueles que chama. Ele provoca uma resposta. O ser humano pode rejeitá-lo, como aconteceu com seus conterrâneos; porém há uma outra possibilidade: crer n’Ele, recebendo de sua plenitude “graça sobre graça”.
Neste domingo a palavra de Deus é proposta a nós. Ela se torna viva e atual na celebração litúrgica, onde ela é explicada, aprofundada através das homilias; ela é protegida e interpretada pela Igreja. Como podemos responder?
A resposta do ser humano ao chamado da Palavra de Deus envolve todos os aspectos da vida: com a fé se aceita a palavra como revelação; com o amor ela é acolhida como regra de vida; com a esperança é aceita como promessa. No fim de tudo, seremos julgados sobre a atitude que assumimos diante da palavra de Cristo.
Por isso este texto é tão importante para a nossa vida de discípulo missionário porque ele coloca as bases sobre as quais vamos viver nossa fé e nossa missão. Na sua homilia, Jesus afirma que se realiza hoje a palavra de ontem do profeta Isaías. Ele anuncia a Boa Nova aos pobres e realiza a Salvação. Então compreendemos por que os habitantes de Nazaré tinham os olhos fixos n’Ele, viam que Ele falava como homem que tem autoridade. Não somente as suas palavras eram “boa nova”, mas Ele próprio era a Boa Nova há tanto esperada. Desde Lucas, desde Teófilo, quantos mensageiros da Boa Nova ninguém conseguiu calar porque, se a mensagem de Cristo é precisamente uma boa nova, é feita para ser anunciada!
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |