Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que proíbe o uso de celulares por estudantes em sala de aula nas escolas do país. Essa medida, que tem gerado debates acalorados, levanta inúmeros questionamentos para todos os envolvidos, pais, estudantes e professores.
É inquestionável que o uso excessivo de celulares em sala de aula compromete a concentração dos alunos. Diversos estudos apontam que as distrações causadas pelas redes sociais, jogos e aplicativos dificultam o aprendizado e reduzem a interação dos estudantes com os conteúdos educacionais. Nesse sentido, a proibição pode ser vista como uma tentativa de resgatar o foco e a disciplina no ambiente escolar, de modo a impactar o processo de aprendizagem.
Do ponto de vista emocional, o excesso de tempo diante de telas está associado a problemas como ansiedade, isolamento social, distúrbios do sono e até mesmo depressão. Além disso, o excesso de estimulação digital pode prejudicar a memória de trabalho, a capacidade de atenção sustentada e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Muitos jovens e adultos são literalmente dependentes dos celulares, seja por redes sociais ou jogos, e se vêm refém desses meios.
Por outro lado, a medida também traz desafios consideráveis. Para muitos pais, o celular é uma ferramenta essencial para acompanhar seus filhos, garantindo uma comunicação rápida em emergências. A proibição pode gerar preocupações sobre a segurança das crianças e adolescentes.
Para os professores, a proibição dos celulares pode ser um alívio por diminuir a concorrência com os aparelhos eletrônicos durante as aulas, mas, quem irá fiscalizar a aplicação da nova lei? Como realmente garantir que os alunos deixem de usar os celulares durante as aulas?
Além de alguns recursos materiais adicionais, por exemplo, armários ou caixas para guardar os aparelhos, exigirá também um esforço constante de supervisão por parte dos professores e da equipe escolar. Essa função adicional pode sobrecarregar ainda mais os profissionais da educação, que já enfrentam desafios significativos em seu dia a dia.
Outro desafio são as consequências que a falta do celular poderá acarretar, desde frustrações, alterações de humor e enfrentamento aos professores ou a quem o estudante acredita ser responsável pelo recolhimento do aparelho. Casos de uso compulsivo ficarão mais evidentes. Sobre quem recairá a responsabilidade de acolher o estudante em sofrimento mental?
Para prevenir os impactos negativos do uso excessivo de telas, é fundamental que os pais desempenhem um papel ativo na regulação do tempo que seus filhos passam em frente a dispositivos eletrônicos, estabelecendo limites para o uso e incentivando a interação social presencial, incluindo tempo de qualidade em família.
É importante destacar que ao mesmo tempo em que ocorre a proibição do uso dos celulares, haja maior investimento para melhorias no sistema educacional, garantindo que a educação seja atrativa e relevante para os estudantes. Complementarmente, sem comprometer o potencial educativo que o uso das tecnologias oferece.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |