A festa do Batismo de Jesus constitui uma espécie de elo entre dois tempos litúrgicos: conclui o Tempo do Natal e introduz o Tempo Comum. Também na vida de Jesus, o batismo é um momento significativo de transição: ele encerra a chamada “vida oculta” em Nazaré e inaugura o tempo do ministério público e da manifestação do Reino de Deus na vida cotidiana das pessoas.
Na carta a Tito, São Paulo faz várias referências à manifestação de Deus em Jesus. Ele afirma, em particular, que “apareceu a graça de Deus, que traz salvação a todos os homens” (Tt 2,11). Realmente, Jesus é para todos: para o povo da primeira aliança, que vai ao Jordão e com o qual Jesus se mistura; para o povo da nova aliança, que nascerá do batismo no Espírito Santo e no fogo, profetizado por João Batista (cf. Lc 3,16); para outras sabedorias e tradições religiosas, representadas pelos Magos, como a solenidade da Epifania nos recorda.
Jesus veio reunir todos os povos porque vive sua existência na interseção de duas relações, que o relato do Batismo evidencia bem: a vertical com o Pai e a horizontal com seus irmãos. Jesus escuta, de fato, a palavra de Deus que o proclama “filho” – “Tu és o meu Filho, o amado” – justamente quando decide viver de forma radical sua fraternidade conosco. Ele – o único justo! – aceita receber o mesmo batismo de penitência e conversão que João aplica aos judeus. Jesus se imerge assim na fraternidade dos pecadores, e é quando vive essa descida que recebe o Espírito Santo, que desce sobre ele, e ouve a palavra do Pai que desce também, para elevá-lo e revelá-lo como “o Filho amado”. Dessa forma, o amor do Pai e a força do Espírito descem sobre Jesus, que, no entanto, quis ser uma só coisa com seus irmãos, embora pecadores. Descendo sobre Jesus, o Espírito desce também sobre nós, que somos uma só coisa com ele. Jesus – como profetiza João Batista – nos batizará não com água, mas com o Espírito Santo e com fogo, porque ele quis se deixar batizar, isto é, se imergir em nossa fraternidade, tornando-se um conosco, para que todos nós fôssemos uma só coisa nele: filhos amados do Pai e templo vivo do seu Espírito!
Há, no entanto, uma condição para acolher esse dom: “esperar”. O testemunho de João Batista permite que o povo permaneça em espera. Esperar significa sair de si mesmo e de nossas certezas, de nossa presunção de bastar para nós mesmos, para se dirigir a um Outro que vem consolar nosso pranto, nos fazer herdeiros da vida eterna, nos encher com o seu Espírito para que também possamos ouvir, com ele, a grande promessa de Deus: “Tu és o meu filho amado, em ti ponho o meu bem-querer” (Lc 3, 22).
No momento do nosso batismo recebemos o dom do Espírito que habitará em nós e nos acompanhará por toda a vida e que grita em nós: “Pai”. Através do batismo nos tornamos filhos e filhas de Deus e devemos viver segundo o Espírito que age em nós. Na eucaristia é o momento ideal para tomar consciência do nosso batismo e da obra admirável que ele realiza em nós. É também o momento de renovar nosso compromisso missionário porque o Senhor deve continuar sendo manifestado através dos batizados para que outros conheçam o caminho da salvação que está em Cristo.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |