Após apresentar João Batista, o 4º Domingo do Advento concentra nosso olhar sobre Maria de Nazaré. São duas figuras centrais do Advento: João, aquele que desperta a espera; Maria, aquela em quem o Esperado começa a se fazer história. Maria acolhe de tal maneira o convite de João Batista para preparar o caminho do Senhor, que ela mesma se torna o caminho para que Ele venha entre nós. O caminho é o da obediência, que caracteriza tanto o Esperado quanto aquela que espera. A carta aos Hebreus coloca nos lábios de Jesus o Salmo 40 – “Eis que venho… para fazer, ó Deus, a tua vontade”; Maria já compartilha a palavra do Filho e Isabel pode proclamar por ela a felicidade de quem obedece na fé à palavra de Deus, e assim discerne o cumprimento dessa palavra em sua vida e na história humana. Maria se torna o caminho por meio do qual Jesus começa a realizar seu percurso nas estradas humanas, para que todos possam estremecer de alegria ao seu encontro. Aquele que será a paz – anuncia Miquéias – é nossa alegria. “Alegre-se, exulte”, assim Gabriel saudou Maria, e ela agora se apressa para compartilhar a saudação da alegria com Isabel e com todos.
Lucas destaca a saudação que Maria dá a Isabel. Ele a menciona três vezes, em uma série de versículos: “entrando na casa de Zacarias, saudou Isabel”. Logo depois, especifica que “assim que Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê estremeceu em seu ventre”. Em seguida menciona pela terceira vez, através dos lábios de Isabel: “Eis que, assim que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê estremeceu de alegria em meu ventre” (Lc 1,44).
Há muitas saudações porque há muitos encontros. E os encontros são numerosos porque Deus intervém e inaugura a salvação através dos relacionamentos humanos. A saudação se torna aqui um sinal de amor e, assim como os nascimentos anunciados, o início de uma nova vida.
Junto com a alegria, devemos também imaginar o desconforto de Maria. Não apenas Isabel está grávida, Maria também está. E sua gravidez é constrangedora, pois ela ainda não é casada com José. Maria sabe da gravidez de Isabel, anunciada pelo anjo, mas Isabel nada sabe sobre a gravidez de Maria. Podemos facilmente imaginar tudo o que Maria deve ter pensado dentro de si enquanto se dirigia para a Judeia. O que dizer a Isabel, como fazê-la entender o segredo que carrega em seu ventre? Quais palavras usar? Ela entenderá ou não entenderá? Como reagirá? Maria não sabe como falar, como agir, e eis que Isabel a liberta do constrangimento, dizendo-lhe primeiro aquilo que Maria deveria dizer. Isabel antecipa cada palavra de Maria e lhe anuncia: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
Isabel não apenas intui, mas reconhece em Maria a bênção de Deus que a visita. Eis um olhar que o Natal deve nos comunicar: ao contemplarmos o menino de Belém, deitado na manjedoura, deveríamos ser capazes de reconhecer os muitos sinais de bênção com os quais Deus nos visita. Reconhecê-los nos lugares mais inesperados e improváveis, como um estábulo, uma manjedoura, lugares simples, comuns, da vida cotidiana, sinais até mesmo pobres e marginais, e ainda assim, sinais da bênção de Deus.
Se soubermos guardar o mistério de Deus no segredo de nossa existência, na verdade de nossa vida, de nosso corpo, de nosso caminho, de nosso compromisso, então as pessoas que encontramos podem se sentir visitadas, não tanto pelas nossas palavras ou gestos, mas pelo próprio mistério que habita em nós, graças ao Espírito Santo. Assim, aos poucos, a experiência de Maria se torna a experiência da Igreja e, na Igreja, de todo fiel.
Feliz e abençoado Natal. Que o menino Deus renasça em todos os corações!
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |