Entramos no Advento à luz do convite de Jesus: “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21,36).
As Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário (NALC) nos ajudam a compreender o sentido litúrgico deste tempo: “O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (NALC, nº 39).
Neste tempo Jesus nos adverte: “Levantai-vos e erguei a cabeça”. Se a história, com os seus trágicos acontecimentos, parece querer nos esmagar, tornando “pesados” os nossos corações, a Palavra de Deus nos exorta a nos levantar e a ficar de pé diante do Filho do Homem, estabelecendo com Ele uma relação capaz de dar um sentido diferente a tudo que vivemos ou sofremos. Não se trata de fugir ou se esconder do tempo em que vivemos para se refugiar em outro lugar, mas de permanecer diante do Senhor que vem, acolhendo dele um olhar diferente para discernir as “promessas de bem” que Deus está nos fazendo hoje. Estar diante dele não é uma atitude passiva, mas dinâmica, como recorda São Paulo aos Tessalonicenses. Significa progredir cada vez mais no amor, pelo Senhor e entre nós. A espera ativa será alimentada pelo amor.
Além disso, o Evangelho de Lucas nos convida a prestar atenção à relação que existe entre o coração e o olhar. Um “coração insensível” nos impede de levantar a cabeça e olhar para o alto. Um olhar que não se eleva faz com que o coração fique fechado em si mesmo, preso nas próprias preocupações, disperso na trama muitas vezes tão densa de preocupações e paixões, atordoado por tantas provocações e propostas que nos intoxicam, se não tivermos o discernimento necessário para compreender em que vale a pena basear a vida ou ancorar a esperança.
Nos Evangelhos, Jesus repreende a descrença dos discípulos que têm o coração endurecido e, consequentemente, têm olhos e não veem, têm ouvidos e não ouvem (cf. Mc 8,17-18). A atitude de escuta da Palavra que permanece para dar estabilidade à nossa vida e ao nosso caminho ao longo do tempo. O coração não deve entristecer o olhar, que deve estar elevado, à escuta, que deve saber discernir de que palavras se alimentar, entre as muitas que nos chegam todos os dias.
“Ficar de pé” é a atitude do homem que espera, do homem do advento, que não fica de pé para fugir, mas para acolher, sem medo, a novidade do mundo que germina no interior da terra. “Ficar de pé” é acolher a libertação, aceitando a vida humana com todas as suas contradições e suas esperanças.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |