Na escola nos ensinaram que em 1888 foi abolida a escravidão negra no Brasil. Que alegria para os negros/as e que tristeza para os seus donos/as. Foi esta a ideia que nos passaram na escola quando estudamos a história do Brasil. Os negros/as agora eram livres e podiam plantar a terra onde outrora eram escravos … Agora eles podiam fazer festa junto com o fazendeiro que antes os explorava … Podiam casar, se quisessem, com brancas … Doce ilusão! Mais uma vez enganaram os negros/as … É verdade. Mantê-los presos dando comida e teto era caro demais, por isso era melhor libertá-los … Libertá-los? Libertar os donos de terra do compromisso de “sustentar” suas senzalas … Agora os senhores podiam contratar os negros/as como diaristas e pagar-lhes menos que eles necessitavam para viver. De que adianta a liberdade sem as condições para viver como livres?
Talvez você esteja pensando ou seja daqueles/as que pensam que o negro/a não soube trabalhar para se manter em liberdade. Será? Quem produziu a riqueza deste país? Os senhores de engenho ou seus escravos? – Quem trabalha mais? – Quem está sentado na escrivaninha ou quem mete a mão na graxa? Você já se deu conta de que, em nosso país, quem mais trabalha e produz menos ganha, e que os negros/as são os que vivem nesta situação? Pense!
Lei Áurea, Princesa Isabel, libertação dos escravos/as. Lindo discurso! Mas afinal, libertação de quem? Definitivamente, olhando nossa realidade, temos que reconhecer que a Lei Áurea só beneficiou os senhores de engenho e donos de terra. Ao mesmo tempo escravizou os negros/as mais do que já estavam. – A Lei Áurea ainda está no papel e os negros/as na grande senzala chamada Brasil. – “Liberdade se conquista”, só que no caso dos negros/as, antes que eles conquistassem a liberdade com direitos, lhes deram “liberdade” com deveres apenas. A Lei Áurea foi um golpe para não permitir a chegada da verdadeira libertação. Hoje a escravidão não depende de cor ou raça, basta ser pobre. Portanto, está na hora do povo brasileiro lutar por liberdade para todos/as … Ele é vítima de um sistema que explora. O negro não é réu. Ele é vítima. Quem tem consciência de liberdade e vive como pessoas livres deve diariamente lutar contra todo tipo de escravidão, racismo e discriminação.
A discriminação racial que hoje ainda se manifesta, ora de forma camuflada, ora notoriamente, é alimentada pela convicção da superioridade da própria raça. Esta atitude, como também a lei do mais forte, não tem respaldo de nenhuma instituição que adota a democracia como princípio.
Amigo/a leitor/a, você não precisa mudar a cor de sua pele, nem negar a sua origem. Dê apenas, diariamente, um pequeno passo ao encontro do outro que é diferente de você e semeie compreensão em vez de discriminação, aceitação em vez rejeição, solidariedade em vez de difamação, amor em vez de ódio.
* Filósofo e teólogo – professor de filosofia, antropologia e história. Professor da Rede Estadual de Educação pardinhorama@gmail.com |