“Quem não se comunica se trumbica”. Este é um ditado popular antigo, no entanto, muito atual. Vivemos na era da comunicação. Todos falam em comunicação. O tema é tão importante que está presente em grandes debates em diferentes segmentos da sociedade.
O texto bíblico para fundamentar esta reflexão diz: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Para ter essa vida em abundância, Deus deu dons e aptidões ao ser humano, entre eles, o de se comunicar. No desenvolvimento da história surgiu a imprensa escrita, o rádio, o telefone, a televisão e as redes sociais, etc. Chegamos a tal ponto que o teórico da comunicação Marshal McLuhan elaborou a conceituação de que vivemos numa “Aldeia Global”.
O poeta JoãoZinho da Vila, em seu livro Meu masculino é feminino (2014), traz luz interessante sobre os mecanismos computacionais que interferem incisivamente no desenvolvimento das relações sociais e, em particular, nos fenômenos de simbolização, incluindo também os mecanismos de transmissão dos conteúdos. No poema “Lágrimas cibernéticas”, a voz poética de JoãoZinho da Vila problematiza: “Minhas lágrimas escorrem/sobre um teclado/que não consegue digitar:/sauddddaaadeeessSSSSSSSS…” Mesmo que o computador seja especialista em inteligência, a nossa especialidade, sua competência se encerra na composição de uma inteligência artificial, sem materialidade, sem peso, sem odores, sem carne, sem sentimentos; enfim, desumana.
Na medida em que os meios de comunicação se modernizam, o ser humano passa a ter mais dificuldades para se comunicar com seus semelhantes. Não que esta relação fosse uma consequência necessária e inevitável. Não é isto. A verdade é que o progresso que os meios de comunicação representam não é extensivo e nem acessível a todos os setores sociais, Desse modo, eles não geram vida em abundância para todos.
Mesmo que o globo terrestre tenha se transformado numa “aldeia” pela intermediação dos meios de comunicação, significa isso vida em abundância e mais comunicação entre as pessoas? O mais complicado é que até nós como cristãos muitas vezes encontramos dificuldades em estabelecer uma comunicação democrática. Responde para ti mesmo: como vai a comunicação entre as famílias, com Deus e, principalmente, contigo mesmo?
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”, passa necessariamente pela nossa filosofia de comunicação. Cabe refletir como avaliamos a ação dos grandes meios de comunicação. A partir disso, qual é o conceito de comunicação que perfilamos para nós? Adotamos o modelo unidirecional ou defendemos o diálogo democrático?
De tanta pseudo-comunicação, de tanta comunicação que mais se identifica com ruídos, a própria mensagem de Jesus Cristo é abafada e distorcida. O versículo bíblico citado aponta que qualquer comunicação, tanto a dos meios como a nossa, deve gerar vida em abundância.
Onde ela não estiver embasada na dignificação do ser humano, deve ser rechaçada. O exemplo é do próprio Jesus Cristo que com sua maneira de se comunicar trouxe esperança, transformação e a proposta para um novo ser humano.
* Filósofo e teólogo – professor de filosofia, antropologia e história. Professor da Rede Estadual de Educação. pardinhorama@gmail.com |