Com o passar do tempo, o conceito de santidade foi empobrecendo, a ponto de ser reduzido a uma espécie de heroísmo. Só podiam ser santos as figuras excepcionais, objetos de veneração e de improvável imitação. As leituras de hoje nos apresentam uma imagem de santidade muito diferente daquela que acabamos de descrever. A santidade define o ser de Deus e o ser do homem, com o qual Deus tece a sua relação de amor. É neste aspecto que a Bíblia insiste. Os caminhos da santidade são muitos, mas todos nascem da relação profunda que Deus estabelece com a humanidade, transformando-a em nova criatura, capaz de viver – como os santos – da alteridade e do amor.
“Um santo é um pecador de quem Deus teve misericórdia”. Ao celebrar a Festa de Todos os Santos, recordamos muitos homens e mulheres que deixaram que Deus conduzisse suas vidas, foram curados e salvos pela misericórdia de Deus. É a festa dos nossos irmãos e irmãs que chegaram à casa do Pai! É bom e salutar recordar neste dia que a maior parte dos nossos nomes tiveram a sua origem em algum santo: José, Antônio, Francisco, Catarina, Teresa, Benedito, João. A festa, pois, está caracterizada pela alegria e pelo agradecimento.
Os santos e santos são exemplos vida para todos nós, pois eles foram fiéis até o fim e ofereceram suas vidas a Deus e aos irmãos. Por isso esta festa nos estimula a seguir os seus exemplos e nos manter firmes no seguimento de Cristo. É uma festa para todos, pois nossa vocação comum é a santidade.
No início do Cristianismo, os membros da Igreja eram chamados de “santos”. A santidade é um projeto de vida ao alcance de todos. Ele vai sendo construído no dia a dia à medida que vamos seguindo a trilha das bem-aventuranças que nos revela a boa-nova do amor misericordioso e fiel de Deus. Foi o caminho escolhido por Jesus e deve ser o nosso também.
As bem-aventuranças nos dizem que no Reino de Deus o primeiro lugar está reservado para os pequenos e humildes. O mundo pede riqueza e força, astúcia e competição. A santidade nasce da compreensão de que tudo é dom e que o mundo com sua astúcia e força pode sucumbir, o amor dos santos é para sempre. Eles nos ensinam a olhar a realidade com outros olhos, na convicção de que a paz não nasce do engano, mas da certeza de que o plano de Deus percorre os caminhos dos mansos e dos pacificadores, dos perseguidos e dos justos.
As bem-aventuranças se tornam um projeto de vida, um modelo de seguimento para quem quer viver nesta vida segundo os critérios de Deus. O discípulo de Jesus é santo por ser pobre no espírito, manso, sedento e faminto de justiça, misericordioso, puro de coração e pacífico. As perseguições jamais o intimidam. Injuriado, perseguido e vítima da mentira, segue adiante sem medo.
No centro da assembleia dos Santos e Santas brilha a Virgem Maria. Colocando a nossa mão na sua, sentimo-nos animados a caminhar com mais empenho na vida de santidade. Confiamos a Ela o esforço de cada dia e rezamos também por todos os nossos queridos irmãos e irmãs que partiram desta vida, na confiança de que nos encontraremos todos juntos na comunhão gloriosa dos Santos e Santas.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |