No dia de Finados, somos naturalmente levados a pensar na morte e naqueles que já não estão entre nós. Lembramo-nos dos que partiram inesperadamente ou por doença, sem contar a péssima marca que a Pandemia Covid-19 deixou em nós. Esse momento, muitas vezes doloroso, é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o sentido da finitude e de vivermos a nossa existência.
Vivemos em uma sociedade que tenta evitar, a todo custo, falar sobre a morte. Alimentamos a ilusão de que podemos escapar dela, e essa negação muitas vezes faz com que vivamos no piloto automático, acreditando que temos tempo infinito para realizar o que queremos, para estar com quem amamos e para seguir nossos sonhos.
Assuntos correlacionados também são temidos, por exemplo, a velhice ou a aproximação dela. Ontem mesmo, me esbarrei com uma pessoa que relatou sentir-se impactada quando lhe chamam de senhora, uma vez que o sentido da palavra significa que as marcas do tempo são visíveis. É assim que os outros a percebem, sendo que lhe falta a completa aceitação quanto à idade.
Como psicóloga, acredito que falar sobre a morte pode nos conduzir a um propósito mais significativo. Como, então, podemos lidar com essa realidade sem cairmos no desespero? Encarando a morte como parte de um ciclo natural da nossa existência. Isso pode ser libertador. Não significa perder o medo ou o desejo de viver, mas considere que nossa vida tem um tempo. Ao aceitar isso, podemos nos abrir para viver com mais leveza, buscando propósito, valor e momentos que realmente nos fazem bem. A liberdade da finitude nos ajuda a investir naquilo que consideramos valioso, a dizer “sim” ao que nos faz crescer e a dizer “não” ao que nos distancia do que é importante.
Neste Dia de Finados, ao lembrarmos daqueles que já foram, o convite é para a reflexão: como podemos escolher viver? A morte, longe de ser apenas uma perda, é também um lembrete da singularidade de cada momento. Podemos homenagear e honrar aqueles que partiram não somente com orações e flores, mas vivendo com propósito, amor e com a consciência de que cada momento tem seu valor.
Olhar para a nossa finitude como um chamado para viver de maneira mais autêntica, conectada e mais verdadeira. A vida, quando vivida com consciência e gratidão, transforma-se em um ato de amor-próprio e de respeito àqueles que se foram.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |