O mito de ser forte.
O câncer é a segunda maior causa de morte no Brasil, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares, portanto, uma realidade que nos ronda e muitas vezes nos assombra, podendo acometer pessoas do nosso convívio ou até a nós mesmos.
O diagnóstico de câncer, para muitas pessoas, representa um dos momentos mais desafiadores e impactantes de suas vidas. Por sua vez, o tratamento que se segue é um processo que mexe profundamente com o corpo e a mente. Ao longo dessa jornada, os pacientes enfrentam uma gama de emoções e pensamentos que vão desde o medo até a esperança, passando por sentimentos de angústia e incerteza. Como psicóloga, ao longo da minha prática clínica, observo que cada pessoa lida de maneira única com essa experiência, mas alguns sentimentos e desafios são comuns.
Quando o diagnóstico de câncer é confirmado, o primeiro sentimento que surge é o medo da morte. Culturalmente, o câncer está associado ao pior dos desfechos, gerando a sensação de perda do controle e vulnerabilidade. Surgem, ainda, outros medos, o da dor, das consequências físicas do tratamento, como perda de cabelo ou mudanças no corpo, da dependência de outras pessoas e, especialmente, do que não se pode prever. Os medos geram ansiedade que pode ser tão elevada a ponto de paralisar as ações.
Outro sentimento comum é a sensação de injustiça ou revolta: “Por que isso aconteceu comigo?” Outra sensação comum é a de solidão, como se ninguém à sua volta pudesse entender a dor que estão enfrentando. Há uma tendência a se distanciar de amigos e familiares, seja por não querer preocupar os outros ou pela dificuldade de lidar com o próprio sofrimento.
Um dos maiores mitos que envolvem o enfrentamento de doenças graves é a ideia de que o paciente precisa “ser forte” o tempo todo. Essa expectativa, muitas vezes socialmente imposta, pode aumentar a pressão emocional e dificultar o processo de aceitação e enfrentamento do câncer. A força, nesse contexto, não deve ser entendida como a ausência de medo ou tristeza, mas como a capacidade de continuar, apesar desses sentimentos.
Permitir-se sentir medo, tristeza e angústia é fundamental. Negar essas emoções pode levar ao acúmulo de tensão, que se manifesta como estresse ou até problemas físicos, como insônia e dores. Sentir e expressar emoções são maneiras saudáveis de processar o impacto psicológico do câncer. Não é fraqueza chorar, sentir-se vulnerável ou pedir ajuda. Pelo contrário, aceitar essas emoções e buscar formas de lidar com elas, seja conversando com um psicólogo, seja partilhando com pessoas próximas, pode ser um ato de coragem.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |