Dilceu Sperafico*
O agronegócio como maior vítima dos efeitos das crises climáticas também contribui para o controle do fenômeno tão nocivo para a atividade produtiva e o próprio bem-estar da humanidade. Pesquisa realizada no Sul e Centro-Oeste do País e Uruguai revelou remoção de mais de 17 mil toneladas de carbono da atmosfera por propriedades agrícolas da região. O estudo do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), desenvolveu inovadora calculadora de balanço de carbono, aplicada em projeto piloto com 33 propriedades localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Uruguai. Essas propriedades somam 18.852 hectares de área produtiva e segundo a divisão de Sustentabilidade da SIA, o balanço total de carbono foi negativo em 17.250 toneladas de CO₂ por ano.
Isso demonstrou que as propriedades estão removendo mais carbono da atmosfera do que emitindo. Em média, cada hectare das áreas analisadas, incluindo áreas de lavoura e de pecuária, remove cerca de 0,92 tonelada de CO₂ ou o equivalente por ano. Os resultados demonstram o potencial das práticas agrícolas sustentáveis na remoção de gases de efeito estufa. As propriedades em questão, as quais muitas já são atendidas pela SIA, aplicam conceitos de intensificação sustentável visando aumentar os índices produtivos e financeiros por meio de práticas capazes de sequestrar carbono. Os dados refletem as boas práticas de manejo adotadas pelas propriedades assessoradas pela SIA, que possuem rebanhos ajustados e elevados índices de produtividade, como ressaltou o estudo.
O trabalho enfatizou a importância de conhecer a situação real das propriedades. Produtores, entidades, cooperativas, indústrias e toda a cadeia produtiva precisam mapear sua situação e impacto reais. Resultados como esses mostram realidade completamente diferente do veiculado na mídia tradicional. Essas propriedades estão contribuindo para combater as mudanças climáticas ao absorver mais carbono e isso é extremamente positivo para o setor agropecuário e precisa ser amplamente divulgado, salientou o estudo. Como próximo passo, a SIA ampliará o número de parceiros e expandirá o mapeamento de propriedades na busca de compreender a realidade brasileira e suas particularidades, no que diz respeito ao tema.
Em 2008, em Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), foi publicado estudo sobre mudanças climáticas e agricultura, ressaltando que de grau em grau as perdas aumentam sobre a nova geografia da produção agrícola e ali foi indicado que as culturas mais vulneráveis seriam soja, milho e café, com especial atenção para a região Sul. Os estudos foram sendo atualizados em 2016, 2020 e 2022 e indicaram as possíveis perdas futuras ainda nesta década e nas próximas, caso nada seja feito. As perdas estimadas seriam acima de 20% na produtividade das lavouras, causando forte impacto na produção final.
O importante é que alguns resultados científicos são mais conservadores do que os da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para as regiões Sul e Sudeste. Todos os tipos de eventos climáticos extremos aumentaram, impactando negativamente a agropecuária, com efeitos mais severos do que nas décadas anteriores. As propostas para minimizar os efeitos das mudanças climáticas na agricultura são várias e passam obrigatoriamente pela adoção de práticas da agricultura de baixa emissão de carbono.
Dilceu Sperafico* é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br |