O Dia da Criança sempre é esperado com alegria e com muita ansiedade. As crianças gostam de receber presentes. principalmente brinquedos. Não devemos menosprezar a importância do brinquedo na vida da meninada, pois é brincando que ela aprende.
Infelizmente, este dia não é alegre para todas as crianças. E é para essas crianças que proponho voltar nosso pensamento hoje. Em 1959, foi elaborada a Declaração Universal dos Direitos da Criança.,visando à conscientização de situações indignas na vida de muitas crianças no mundo.
Dia para refletir sobre o direito da criança
Esta Declaração, diz, por exemplo que a criança tem direito: à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; à especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social; à alimentação, moradia e assistência médica; ao amor e à compreensão; à educação gratuita e ao lazer infantil; a ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho; a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Facilmente, podemos concluir que os direitos da criança não estão sendo cumpridos.
Crianças deve cuidado com a hipocria dos adultos
Talvez vocês, crianças, já puderam perceber que no mundo dos adultos acontecem algumas coisas que além de engraçadas são também hipocrisia. Por ex.: durante um ano todo nós derrubamos árvores e depois tiramos um dia e o chamamos de “Dia da Árvore”. Os maiores depredadores da natureza se reúnem nas praças, visando aplausos, plantam uma árvore e discursam sobre o toco daquela que derrubaram no dia anterior. Pois é, pequenos, hoje é o dia de vocês! Ontem não foi e nem amanhã poderá ser! Hoje presentes, homenagens, abraços e tanta falsidade. Durante o ano tão pouco tempo para abraços, tanta dor e mau trato, dos vossos pais impacientes e insensíveis, dos mestres, do vício, do trânsito, do mundo adulto de tanta pressa, fome e frio. Algumas são consideradas “não educáveis, não aproveitáveis para o sistema”. Apenas crianças, que não merecem nem respeito nem consideração, pois nada produzem. Mesmo assim, são vistos como vislumbro de um grandioso futuro. Como pode uma pátria ter um grandioso futuro construído sobre um presente de agonia? Pequenos irmãos!
Que mundo os adultos estão deixando para as crianças?
Imagino que vocês estejam assustados com os estudos divulgamos por aí sobre a mortalidade infantil, os milhões de esfomeados condenados a morrer, os milhões de menores abandonados, analfabetos, trombadinhas, etc. Tratamos muitos entre vocês com jornal, por casa damos a vocês um barraco indecente, bem cedo lhes colocamos armas nas mãos, de madrugada mandamos vocês para o canavial, no raiar do dia para rua com jornal, para roça como animal. Também agraciamos vocês com atitudes paternalistas e assistencialistas. Migalhas, sim migalhas, mas vocês não entendem! Que nós queremos que vocês produzam. Apresentamos a vocês os rios sujos e na educação alienante contamos a vocês sempre a história dos vencedores. Que educação é esta? Seria libertadora e compromisso com a verdade e a vida? E quando vocês protestam e são obrigados a furtar, nós maldizemos e castigamos vocês em nome da ordem e”. Não se meta Deus nisso. Há algum tempo um respeitável senhor matou a chutes um de vocês por considerá-lo indigno da vida. Quantas vezes isto acontece por dia! E Cristo abençoou vocês e tomou vocês nas mãos. E, o que é pior, ele disse que qualquer coisa que a um pequeno se fizer a Ele está sendo feito. Cristo esfomeado e espancada na rua. Lutero dizia que muitos pais néscios educam seus filhos da mesma forma e estes se tornam imitadores deles. Alguns dentre vocês, ao serem perguntados respondem: “quando eu crescer quero ser tal Qual meu pai”. Sem generalizar eu diria: Senhor, nos livre desta desgraça. Lembre-se, pequeno irmão que fomos nós que construímos este mundo de favelas e casarões; de fome e de opressão; onde o filho do doutor rejeita brinquedo que sustentaria a família do Zé por um mês. Vocês já são “grandes” e quando crescerem não repitam este mundo, eu lhes peço. Vocês nos veem a brigar por causa de herança e enquanto brigamos, eis ar o que lhes concedemos por herança.
Dia das Crianças é um convite para os adultos mudarem de atitude
É engraçado o que nós pensamos sobre o brincar de vocês. Parece que só querem brincar. Não têm grandes pretensões. Se preocupam muito pouco e se alegram (ao menos grande parte de vocês) com menos ainda”. Isto é especialmente incômodo. A pureza de vocês, quase ausência de ganância, pressa, competição e racismo. Vosso alegrar-se com tão pouco e vossa solidariedade. Este vosso fascínio em brincar tão livremente já é um “abuso”. Outra coisa muito insólita e incômoda é a atitude de Jesus para com vocês. Chega a ser inquietante e revoltante para nós. O Senhor diz que estão errados os discípulos que procuram afastar os pequenos. “Deles é o Reino de Deus … e todos devem recebê-lo como crianças”. Isto é: de mãos vazias, sem méritos e pretensões. Diz que, por menor que seja, não estão fora do alcance do amor de Deus. É duro, mas somos forçados a reconhecer que os grandes e graúdos, com seus feitos e experiências, devem se humilhar e ser tal como as crianças. Lutero ilustra esta inquietação: “Ah, querido Deus, o Senhor é demasiado rude conosco. Quisera o Senhor tivesse mais consideração e deixasse de exaltar as bobinhas destas crianças”. Tudo o que a um pequeno se faz a Ele se faz (Mateus 18.1 seguinte; 25.31 seguinte). Isto nos obriga a uma confissão de pecado e é um desafio a mudarmos nossa relação a vocês pequenos. Não basta ter filhos, precisa-se amá-los. Apesar de tudo e graças a tudo manifestamos diante de Deus a nossa esperança e compromisso de que juntos, brincando e trabalhando, possamos edificar cada vez mais sinais do Reino. Então se poderá brincar livremente e sem medo nas praças, atravessar calmamente a rua, desfrutar a beleza dos campos, das águas límpidas e dos alimentos sem veneno. Não haverá mais favelas, nem mendigos, nem quem durma nas calçadas. Haverá perdão e amor. Haverá futuro e teremos reaprendido a viver. E será “Dia de Criança”.