Aos 91 anos de idade, Lurdes da Silva Roman é um verdadeiro exemplo do pioneirismo que deixa um legado para as futuras gerações
Em meio às paisagens vibrantes do Paraná, a história de Lurdes da Silva Roman se entrelaça com a evolução de Assis Chateaubriand. Sua trajetória é um testemunho de resiliência e dedicação, que reflete o espírito do pioneirismo que consolidou o “Campo dos Baianos”, na Cidade Morada Amiga. Aos 91 anos de idade, completados no domingo de eleições, (06), Dona Lurdes continua a ser um exemplo ao exercitar o seu direito a voto, assim como fez em todos pleitos, desde que o município foi emancipado, em 1966.
CIDADANIA – O censo de responsabilidade e o amor por sua cidade motivaram Dona Lurdes a votar mais uma vez, como sempre fez. O fato chamou a atenção do Juiz Eleitoral, o Ex. Sr. Fernando Porcino Gonçalves Pereira e do Promotor Eleitoral, Dr. Marcelo Pato Cunha. Eles fizeram questão de estar presentes na seção, quando Dona Lurdes Roman votou no Colégio Cívico Militar Guimarães Rosa. “É um prazer conhecê-la, pois quando vemos alguém com 91 anos de idade, que portanto, goza de uma experiência e do respeito da sociedade, vindo aqui votar, serve de exemplo para todos nós; eu vou contar a sua história para os jovens para incentivá-los; nós já estamos cansados, mas a senhora segue firme, forte e elegante”, elogiou o juiz.
“Eu voto para que Assis Chateaubriand cresça cada vez mais; temos que votar nas pessoas que são capacitadas para governar”, ensina Dona Lurdes. Ao falar sobre o passado político da cidade, ela relembrou da amizade com o saudoso Moacir Micheletto, pessoa na qual sempre depositou muita confiança, desde quando foi candidato à prefeito, em 1976. Numa viagem a Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, ganhou dele duas medalhas da santa que guarda até hoje. Dona Lurdes também lembra que foi das mãos do ex-prefeito Koite Dodo que recebeu seu diploma escolar e da austeridade com que Osvaldo Laghi governou o município. “Todos deram sua contribuição”, avalia.
Sobre ser exemplo para as futuras gerações, Dona Lurdes diz: “No nosso tempo era tudo muito difícil, mas a gente participava de tudo; eu acho que os jovens de hoje precisam valorizar mais o lugar onde moram e valorizar mais as pessoas, eles precisam ter mais garra e pensar mais no futuro do nosso Brasil”, aconselha Dona Lurdes.
PIONEIRISMO – Nascida em São Paulo, Dona Lurdes é a mais velha, entre os nove irmãos, dos quais quatro já faleceram. Ela veio para o Paraná em 1939, aos 6 anos de idade e morou com os pais, Antônio Marques da Silva e Ana Augusta de Caires, em Cambé, onde adquiriram 5 alqueires de terras e sua avó mais 5 alqueires. Depois de 4 anos cultivando café, venderam os 10 alqueires e compraram 15 alqueires no distrito de Bartira, em Rolândia. “Naquela época era tudo muito sacrificado, mas a gente não notava, pois era todo mundo assim, né”, lembra Dona Lurdes. Nesta fase da vida se apaixonou pelo seu vizinho, Antônio Roman Ribas. Eles se casaram e tiveram quatro filhos homens: Nivaldo, Valdemir, Mauro e Toninho. De lá foram para Atalaia para uma colheita de café e depois para uma propriedade na Estrada Pinguim, em Maringá, onde ficaram mais 4 anos.
Somente em 1964 o casal decidiu vir para Assis Chateaubriand, motivados pelo sogro. No auge da venda de terras na região José Roman Ruiz com sua esposa Josefa Ribas, adquiriram 50 alqueires de terras e mais 25 alqueires para cada filho. Estabelecidos em Assis, Dona Lurdes teve mais duas filhas: Márcia em 1966 e Ana Marinez, em 1968.
“Aqui era tudo mato, tinha poucas aberturas, nós adquirimos terras no Ramal Arapuã, onde as famílias Belice e Orlandine já estavam estabelecidas; naquele tempo tinha muita gente em Assis; na festa de emancipação veio o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand e meus parentes de Rolândia também”, relembra com saudades”.
Dona Lurdes relata que a família nunca teve interesse no plantio de hortelã. Depois de cultivar café por quatro anos migrou para a produção de soja. Nos cuidados com a família, ela ressalta o ensino: “A primeira escola que meus filhos frequentaram foi no Ramal Cauã, meu marido comprou bicicletas para eles irem estudar; depois surgiu a Escolinha Santa Rosa, no sítio do meu cunhado, na Estrada Terra Nova”. Ela conta que a mudança de escola foi acompanha por Maria Politi e mais um funcionário da prefeitura – “Naquele tempo era o Manoel Ramos [primeiro prefeito] que cuidava de tudo na cidade”, disse.
Com o tempo, os filhos optaram por estudar na cidade então compraram uma Kombi para o transporte. Depois de morar 19 anos no sítio, a família mudou-se para a sede da cidade, numa casa próxima ao antigo Hospital Osvaldo Cruz, que foi transformado no Hospital Beneficente Moacir Micheletto. O objetivo era facilitar o estudo das meninas.
VIUVEZ – em junho de 1983, após 15 dias da mudança do sítio para a cidade, um acidente fatal tirou a vida de seu esposo Antônio Roman. Na época, apenas o filho Nivaldo estava casado e ela já tinha dois netinhos, Andreia e o Rodrigo. Com brilho nos olhos e aperto no coração, ela lembra de como o companheiro foi um bom marido, bom pai e um avô adorável. Após ficar viúva, ela não teve mais interesse em outra pessoa e passou a dedicar-se à família e a comunidade.
Depois que os filhos saíram de casa, muitas jovens moraram com Dona Lurdes. Normalmente, eram filhas de sitiantes que vinham para a cidade trabalhar/estudar e eram acolhidas por Dona Lurdes. A generosidade era compensada pela companhia das meninas. Atualmente, a amiga Jandira mora com ela, já há 6 anos e juntas cultivam o quintal com muitas plantas. Além de Jandira, Dona Lurdes recebe a atenção da família, que diariamente está com ela. Sempre ativa, Dona Lurdes ainda cozinha a própria comida e lava suas roupas. Somente na limpeza da casa é que ela conta com auxílio profissional. Além de ter participado muito das atividades do Centro de Convivência da Terceira Idade, no qual já ocupou cargos, Dona Lurdes frequenta a igreja, “religiosamente”, onde também já prestou grande contribuição.
LEGADO – Assim, a história de Lurdes Roman é uma bela narrativa de amor pela família e pela cidade de Assis Chateaubriand. Ela nos ensina que, através da dedicação, do amor e da solidariedade, é possível construir um legado que perdurará por gerações. E, como a própria Lurdes, todos têm a capacidade de deixar uma marca indelével na vida daqueles ao seu redor, cultivando o que é mais precioso: a união familiar e a força da comunidade. No caso da Dona Lurdes, tudo isso é uma certeza, afinal, por enquanto, ela tem 16 netos e 12 bisnetos, incumbidos de levar seu legado adiante.
A REPORTAGEM – para contar sua história, Dona Lurdes nos recebeu com uma farta mesa de café, com uma simpatia cativante e uma lucidez que impressiona. Em seu lindo quintal, cheio de plantas e flores, ela nos exibiu com orgulho muitas fotografias da família, em especial, o álbum da festa dos seus 90 anos. Além das fotos, ela nos disse que as edições do jornal O Regional, que considera mais interessantes, também estão todas guardadas. Antes de se despedir, gentilmente, nos convidou para registrar o esperado encontro anual da família, que desta vez, acontecerá no dia 15 de novembro, na Casa Blanka Eventos, quando certamente, ela deverá ser o centro das atenções, como uma autêntica matriarca merece.
O Juiz Eleitoral, o Ex. Sr. Fernando Porcino Gonçalves Pereira e do Promotor Eleitoral, Dr. Marcelo Pato Cunha. Eles fizeram questão de estar presentes na seção, quando Dona Lurdes Roman votou no Colégio Cívico Militar Guimarães Rosa.