Campanha 2024 da OMS quer ampliar a cirurgia de catarata em 30% e a correção de erros refrativos em 40% até 2030.
Neste dia 14 de outubro o mundo abre os olhos para a importância da visão com mais inclusão. Isso porque, o último relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre saúde ocular revela que as duas causas de perda da visão evitáveis de maior prevalência global são a catarata e a falta de óculos. Por isso este ano mobiliza os oftalmologistas a abraçar esta causa. A previsão é de que para eliminar a perda da visão causada por estas duas condições seria necessário um investimento de US$ 14,3 bilhões. No mundo, a catarata atinge 65,2 milhões de pessoas e a falta de óculos 123,7 milhões. Já na região América Latina Tropical da OMS, formada pelo Brasil e Paraguai, o número total de casos de catarata é de 2,3 milhões enquanto a falta de óculos atinge 6,6 milhões de pessoas. O Brasil concentra a maior parte dos casos. Isso porque somos 212 milhões de brasileiros, enquanto a população do Paraguai é de 7.6 milhões.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier de Campinas e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) a posição geográfica do Brasil, nosso clima e a cultura brasileira de tomar banhos de sol faz com que a catarata possa surgir mais cedo atingindo 17% das pessoas entre 55 e 65 anos, 47% das que têm entre 65 e 75 anos e 73% das que têm mais de 75 anos. Para se ter ideia, o oftalmologista afirma que a exposição dos olhos ao sol sem lentes que filtrem 100 da radiação UV (ultravioleta), comportamento bastante frequente entre brasileiros, aumenta em 60% o risco de desenvolver a catarata, condição que opacifica o cristalino do olho até a completa perda da visão caso não seja operada.
Sintomas da catarata
Queiroz Neto ressalta que a catarata como a maioria das doenças oculares progride lentamente. Por isso, muitos pacientes ficam surpresos quando recebem o diagnóstico, comenta. Os sintomas elencados pelo oftalmologista são: troca frequente dos óculos, visão nublada, enxergar halos ao redor da luz, perda da visão de contraste, dificuldade de adaptação em locais com diferentes níveis de iluminação, fotofobia.
O tratamento
A boa notícia é que a cirurgia, único tratamento para a catarata que torna o cristalino do olho progressivamente opaco até a completa perda da visão, substitui a lente interna do olho pelo implante de uma lente intraocular e a doença não volta. A cirurgia é feita com anestesia local, demora entre 10 e 15 minutos e não requer internação. No dia seguinte o curativo é retirado a maioria dos pacientes fica surpreso com a nitidez das cores e a visão dos detalhes. O cirurgião afirma que o mais importante na cirurgia são as medidas precisas no pré-operatório, o uso dos colírios prescritos no pós-operatório e seguir todas os cuidados recomendados pelo oftalmologista.
Causas
Queiroz Neto explica que a causa mais frequente da catarata é o envelhecimento, por isso quem viver um dia terá. Entretanto, pode também ser causada por um trauma, mau uso de medicamentos como corticoide, doenças como o diabetes e até a alta miopias.
Falta de óculos
O oftalmologista afirma que entre crianças a condição mais frequente da deficiência visual é a falta de correção dos erros refrativos. São eles: miopia ou dificuldade de enxergar à distância; hipermetropia caracterizada pela visão embaçada de perto e astigmatismo que torna a visão de perto e longe desfocada. No mundo todo a miopia é a condição que mais cresce na infância. Atinge 1 em cada 3 crianças, 2,6 bilhões de pessoas de todas as faixas etárias e 360 milhões de pessoas no mundo com idade abaixo de 19 anos.
Relatório da IAPB (Agencia Internacional para a Prevenção à Cegueira) que fomenta o banco de dados de doenças oculares da OMS, mostra que na região América Latina Tropical da OMS formada pelo Brasil e Paraguai 6,6 milhões não têm acesso aos óculos de grau. Os brasileiros são a maioria porque o País tem hoje 212,6 milhões de habitantes e o Paraguai 7,6 milhões.
Queiroz Neto ressalta que é um engano pensar que a falta de óculos só acontece nos rincões do Brasil. Em uma ação social coordenada pelo especialista em parceria com a prefeitura de Campinas e as principais indústrias do setor óptico, Essilor e Transitions, 36 mil óculos e consultas foram doados aos estudantes das escolas municipais e 70% deles nunca tinham passado por uma consulta oftalmológica.
Pesquisa: Importância dos óculos
O especialista conta que um ano após a doação dos óculos, uma pesquisa realizada professores e pais de alunos mostrou que um simples óculos melhorou em 50% o rendimento escolar das crianças. Ciente do baixo acesso às consultas e óculos, Queiroz Neto retomou em 2023 o mutirão nas escolas municipais com o apoio da Abiótica (Associação Brasileira de Indústrias Ópticas). O mutirão também recebeu apoio de um fornecedor que cedeu equipamentos de triagem visual automatizada para garantir padronização da abordagem dos alunos. A primeira triagem visual foi realizada pelos professores treinados por Queiroz Neto e mais de 11 mil estudantes foram encaminhados para consultas oftalmológicas na Fundação Penido Burnier, braço social do hospital.
Em Assis Chateaubriand, o Lions Clube faz este trabalho. Em parceria com a Clínica da Visão, do Dr. Carlos Alexandre e com Ótica Campos Rozza, o clube de serviço viabiliza a consulta e o fornecimento dos óculos para os alunos das escolas municipais, de forma gratuita.
Como prevenir a piora da miopia
Queiroz Neto afirma que uma dúvida frequente dos pacientes é como prevenir a piora da miopia e outras condições oculares. A consulta oftalmológica anual é a melhor forma de prevenção, pontua. Isso porque a maioria das doenças têm melhor prognóstico quando são tratadas logo no início. A miopia, ressalta, pode ser hereditária quando um dos pais ou ambos são míopes. Fatores ambientas, sobretudo o excesso de telas e a falta de exposição ao ar livre predispõem ao crescimento do olho que torna a visão curta por formar as imagens antes da retina. “Na frente das telas piscamos cinco vezes menos e isso provoca um espasmo nos músculos que movimentam o foco do cristalino nas várias distâncias e induz à miopia acomodativa”, explica.
Esta é a principal conclusão de uma pesquisa conduzida por Queiroz Neto com 360 crianças de 6 a 9 anos que diariamente permaneciam muitas horas em frente às telas. O hábito praticamente dobrou o número de míopes no grupo. A boa notícia, observa, é que a miopia acomodativa pode ser corrigida com mudança de hábitos. A dica do oftalmologista para prevenir a miopia acomodativa é seguir a regra – 20/20/20 – A cada 20 minutos, olhar para um ponto a 20 pés ou seis metros, por 20 segundos.
Outro fator ambiental que reduz o risco da criança desenvolver miopia é praticar de 2 a 2,5 horas/dia de atividades externas sob luz solar intensa, pontua. O especialista explica que a radiação ultravioleta emitida pelo sol aumenta a circulação de dopamina. O efeito nos olhos é o fortalecimento das fibras de colágeno da córnea e da esclera, parte branca do olho. Estas alterações dificultam o crescimento axial do olho, uma das características da miopia.
Controle da progressão
Queiroz Neto afirma que a miopia em si não é uma condição grave. O problema é quando atinge 6 dioptrias ou mais que caracterizam a alta miopia. Isso porque a alta miopia indica crescimento descontrolado do olho que fragiliza o risco de descolamento de retina, glaucoma e retinopatia miópica, alterações que podem levar à perda irreversível da visão.
O oftalmologista alerta que quanto mais cedo a miopia surge na criança, maior a chance de ter alta miopia. A boa notícia é que hoje os tratamentos de controle da progressão tem avançado bastante. Entre as terapias disponíveis que devem ser utilizadas por 12 horas/dia indicadas para crianças de 8 a 12 anos Queiroz Neto destaca:
1. Lentes de Contato de Desenho Especial
• Lente de contato ortoceratológica que é utilizada durante o sono para aplanar o formato da córnea e eliminar a miopia durante o dia
• Lente de Contato multifocal
2. Óculos Especiais
• Óculos com Desenho multifocal
4. Higiene visual e comportamental
• De 2 a 2,5 horas/dia de atividades ao ar livre em ambiente tempo ao ar livre
• Redução do tempo em telas ou leitura prolongada