No evangelho deste domingo (6/10) Jesus se dirige a Jerusalém (Mc 10,2-16). Lá se concluirá a sua missão. Os seus ensinamentos causam mal-estar nos fariseus e nos seus discípulos. Até hoje suas palavras provocam questionamentos nas pessoas. Por isso os fariseus estão sempre preparando armadilhas para desmoralizar Jesus diante dos seus seguidores. Vamos ver mais uma vez Jesus demonstrando sua total liberdade e ficando do lado dos mais fracos.
Alguns fariseus se aproximam de Jesus e perguntam se é permitido ao homem se divorciar de sua mulher. Baseavam-se numa lei criada por Moisés. Os fariseus querem criar uma armadilha para Jesus.
Jesus aceita o desafio e recorda o projeto original de Deus, que criou homem e mulher igualmente, sem dominações ou privilégios para os homens. Por isso o matrimônio é uma entrega total, duradoura que unifica o casal, “formam uma só carne”. E reafirma a indissolubilidade do matrimônio: “o que Deus uniu, o homem não separe”. Esclarece ainda que se Moises criou a lei do divórcio foi devido à “dureza dos vossos corações”. A incapacidade de perdão e de reconciliação diz respeito a um coração duro. Com esta atitude Jesus acentua a igualdade de condição entre o homem e a mulher e protege a parte mais frágil. Não é uma questão de lei, mas do projeto de Deus.
A sós com seus discípulos Jesus explica que o divórcio não faz parte do projeto ideal de Deus. Deus criou o homem e a mulher e os destinou à felicidade convidando-os a viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida em todos os sentidos, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. O fracasso dessa relação não está previsto nesse projeto ideal de Deus. O amor dos esposos que se comprometem diante de Deus e da sociedade deve ser um amor eterno e indestrutível. O matrimonio foi elevado a sacramento porque ele sinaliza o amor de Deus pela humanidade, o amor de Cristo por sua Igreja.
Deus sabia que não seria fácil para a humanidade viver este amor ideal, por isso ele colocou ao nosso lado o Espírito Santo. Muitas vezes a sociedade de hoje coloca soluções fáceis para os conflitos e dificuldades, principalmente na vivência do matrimônio. O fracasso do casamento cristão não deveria ser considerado uma normalidade, mas uma situação extrema. O casal cristão deveria esforçar-se para realizar sua vocação de amor, procurando conhecer melhor um ao outro, não desistindo na primeira desavença. Por isso a Igreja sustenta a indissolubilidade do matrimônio como ideal do projeto de Deus.
As crianças, símbolo de quem precisa de atenção e apoio para viverem, chamam nossa atenção à confiança e entrega nas mãos de Deus. No Reino de Deus não há espaço para quem é autossuficiente, orgulhoso e arrogante. Quem está com Deus acolhe e escuta suas propostas e se coloca numa atitude serviço aos irmãos.
Que todos os casais sintam a proximidade de Deus, sejam abençoados e fortaleçam seus laços de união celebrados no dia seu casamento. Que a Eucaristia abençoe, renove e fortaleça sobretudo os vocacionados à vida matrimonial. Amém!
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |