Não temos civilidade, segundo dizem os ministros todo-poderosos, do alto de seus pedestais dourados. Somos inferiores, claro — em inteligência, entendimento, vocabulário e educação.
Obviamente, não frequentamos os mesmos ambientes de suas excelências, não viajamos pelo mundo como eles, cercados de um séquito de seguranças e assessores. Nossos ganhos, fruto do trabalho cotidiano, igualmente nem chegam perto do que eles recebem.
Mas, mesmo com esse abismo entre nós e eles, os poderosos supremos se outorgaram a missão de nos civilizar. Querem, como dizem a quem perguntar, colocar o Brasil no “caminho certo”, nos iluminar com suas luzes supremas, civilizar o bárbaro povo brasileiro. No entendimento dos seres supremos, por sermos incivilizados, primitivos, não podemos escolher nosso próprio caminho.
Somos brutos, indelicados, não usamos luvas de pelica ao tratar dos seres supremos que mandam e desmandam no país. Insistimos em criticar decisões que calcam aos pés o que está escrito nas leis e na própria Constituição Nacional; não rasgamos elogios às falas empoladas que usam a defesa da democracia como justificativa para perseguições e injustiças.
Ainda insistimos em defender a liberdade de pensamento e de expressão como condição necessária para a democracia. E também queremos o direito de votar e eleger quem quisermos, mesmo aqueles que os seres supremos consideram inadequados.
Esse tipo de comportamento é inaceitável. Onde já se viu achar que os seres supremos não são tão supremos assim e que podem ser criticados como qualquer reles mortal? Ou que não cabe a eles mandar e desmandar no Brasil?
Segundo a lógica dos poderosos, a civilidade é acatar com submissão tudo o que eles dizem e decidem; aceitar todas as limitações impostas à nossa liberdade; ficar cada vez mais calados, temerosos de expor valores e crenças. Calados, submissos, obedientes: escravos perfeitos.
Por Jocelaine Santos |