Desde o último domingo, estamos observando as dificuldades dos discípulos em compreender a missão de Jesus. Eles refletem a “sabedoria do mundo”, enquanto Jesus revela a “sabedoria de Deus”. São duas realidades opostas: uma valoriza o poder, a busca pelos primeiros lugares e a competição, enquanto o Messias fala da cruz e do serviço aos mais fracos, da humilhação. Quando Jesus atrai multidões, faz milagres e ganha fama, os discípulos se entusiasmam. No entanto, quando Ele menciona sofrimento, morte e serviço, eles não conseguem entender sua proposta.
No Evangelho deste domingo (Mc 9,30-37), a paixão de Jesus ressoará duas vezes: no livro da Sabedoria (primeira leitura), a hostilidade dos ímpios contra os justos é enfatizada de forma impressionante. No evangelho é Jesus quem anuncia a sua própria paixão. O Salmo 53 funciona como uma ponte para compreender o mistério do sofrimento dos inocentes, pois traz à mente que é o próprio Deus quem sustenta a vida dos justos. Compreende-se assim como Jesus anuncia com tanta crueza o seu doloroso destino, dirige-se à cruz, mas o seu olhar está fixo em Deus que o sustentará: “ao terceiro dia ressuscitará”.
Saindo de Cesareia de Filipe, Jesus se dirige a Cafarnaum e quer ficar a sós com seus discípulos para ouvi-los e ajudá-los a compreender todos os acontecimentos da viagem. A casa de Pedro em Cafarnaum, onde Jesus se hospeda, fica à margem do lago e ela se torna uma escola para os apóstolos. Os discípulos continuam sem compreender a mensagem de Jesus. Eles o seguem com a bagagem de seus critérios humanos. A instrução de Jesus se dirige aos discípulos e a todos os seus seguidores
Os discípulos não compreendem que o Messias possa ser entregue nas mãos dos seus inimigos e ser executado. Eles pensam que o Messias deve prevalecer sobre os inimigos, impondo-lhes uma derrota definitiva. É por isso que, assim que Jesus permanece em silêncio e imediatamente começam a discutir sobre quem é o maior, certamente pensando na glória terrena do Messias vitorioso e na “distribuição” de poderes para os seus ministros.
“Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo”. A criança aqui se torna símbolo da pessoa necessitada, privada de acolhimento. Prestar serviço às crianças necessitadas (e a outros semelhantes) é uma recomendação constante no judaísmo, mas o evangelho coloca em evidência a equivalência entre a criança e Cristo, servo sofredor rejeitado pelos homens. Acolher a criança é acolher Cristo.
Esta é a verdadeira grandeza de uma comunidade eclesial: colocar os necessitados no centro da sua atenção é colocar no centro Jesus, aquele que assumiu a fragilidade humana. A criança é imagem do caminho de Cristo e da sua escolha fundamental de estar ao lado do amor que se doa a todos.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |