O Evangelho (Mc 8,27-35) apresenta um momento decisivo na vida de Jesus e seus discípulos. Eles o seguem há algum tempo, mas precisam de algumas respostas: aonde eles se dirigem? Quem é Jesus? O que ele pretende? É evidente que desde o momento que começaram a seguir Jesus os discípulos têm muitas perguntas.
O evangelho deste domingo (15/09) vai tratar desta questão. Jesus conduz seus discípulos para o extremo norte do país, Cesareia de Filipe. Tudo em Cesareia, começando pelo nome, recordava o poder militar, econômico, político e ideológico de Roma e seu imperador. César de Roma ostentava os títulos de Divino, Senhor, Filho de Deus, Deus, Deus dos Deuses, Redentor, Libertador e Salvador do mundo. É neste contexto que Jesus pergunta o que dizem d’Ele, quem Ele é para o povo em geral. E finalmente pergunta aos próprios discípulos: E vós, quem dizeis que eu sou?
É uma pergunta fundamental que vai determinar todo o resto. Jesus quer discípulos que o sigam conscientemente, sabendo de todos os riscos que isto implica. Eles precisam conhecê-lo profundamente. Por isso quando Pedro confessa – Tu és o Messias! – ele está cometendo uma traição ao imperador e substituindo o reino de Roma pelo Reino de Deus. Ele reconhece Jesus como o único Rei!
Sabemos que a confissão de Pedro ainda é limitada. Os discípulos não têm consciência de tudo o que vem pela frente: perseguição, morte na cruz, nem mesmo podem imaginar que Jesus ressuscitará. Mas possuem o fundamental: a vontade de conhecer melhor Jesus e segui-lo de perto. É o primeiro passo para que a fé que já possuem aumente e tome proporções que o façam verdadeiros seguidores. O que acontecerá depois da experiência da Ressurreição.
Para todos nós, cristãos, é também fundamental fazer esta pergunta: quem é Jesus para nós? É vital reconhecer o mistério de Jesus: no homem Jesus está presente o Messias, libertador e salvador. Se a Igreja ignora Cristo ela ignora a si mesma. Se não o reconhece, não pode realizar sua tarefa e missão. Como os discípulos, precisamos ir purificando nossa fé, através do contato com sua Palavra contida nas Sagradas Escrituras; reconhecê-lo no Sacramento da Eucaristia. Perceber sua presença amorosa no cotidiano. Enfim segui-lo de perto e colaborar com ele na construção do Reino de Deus. Esta é a principal tarefa que precisamos promover nos grupos e comunidades cristãs.
Como aconteceu com os apóstolos, ainda hoje existem vozes e juízos contrastantes sobre Jesus: há aqueles que o consideram um sábio, um personagem da história, um homem bom que soube acolher os pecadores. A verdadeira identidade de Jesus é aquela proclamada por São Pedro: “Tu és o Messias, o Cristo”. Ele é o Filho de Deus que veio ao mundo para trazer a salvação eterna e não simplesmente uma doutrina para tornar mais fácil a convivência humana. Jesus é Deus encarnado que se envolveu com a humanidade como ninguém, tornou-se humano para nos levar até Deus: amou-nos até o fim. Portanto, não é suficiente reconhecer Cristo como Filho de Deus da boca para fora, é preciso segui-lo até o fim, até a cruz sabendo que ela não é o desfecho final, mas um meio para conhecer a salvação. Só assim poderemos participar da ressurreição de Cristo.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |