Setembro é um mês dedicado à temática da saúde mental e à atenção especial aos adultos com transtornos mentais com risco de suicídio. Importante também olharmos para as nossas crianças. Adultos com transtornos mentais podem ter apresentado seus primeiros sintomas durante a infância. O convite especial de hoje é o de voltarmos a atenção às crianças e observarmos seu mundo interior, para a ajuda ser ofertada o mais breve possível, como prevenção dos agravos.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde indicam que, nos próximos vinte anos, a depressão deverá se tornar a doença mais comum do mundo, atingindo mais pessoas que o câncer e os problemas cardíacos. Engana-se quem acha que somente os adultos são afetados por ela. Crianças a partir de quatro anos podem apresentar sintomas que merecem atenção e tratamento.
É delicado o diagnóstico de crianças com depressão, uma vez que estão em plena fase de desenvolvimento psicossocial. É comum confundir os sintomas depressivos comportamentos típicos da idade. Qualquer sintoma acentuado, que perdure por mais de duas semanas, requer atenção especial.
Crianças menores, a partir de quatro anos, podem se tornar mais chorosas, melancólicas, apresentar ansiedade ao se separar dos pais, com medo de dormir sozinhas. Elas podem ter sono perturbado e despertar relatando pesadelos. Podem ainda se queixar de dores na barriga e regredir em algum aspecto do desenvolvimento, por exemplo, voltar a fazer xixi na cama.
A partir dos seis anos, os sintomas estão mais relacionados à sociabilidade, com tendência ao isolamento, retraimento e na escola apresentam baixo rendimento. O professor pode ser um agente de visualização dos problemas emocionais da criança, uma vez que percebe as alterações no comportamento infantil com facilidade e não são como os pais que resistem em não enxergar os problemas da criança e, por vezes, nem aceitam o diagnóstico de um especialista.
A dificuldade dos pais em aceitar que a criança está enferma esbarra nas causas da depressão infantil, que também estão relacionadas à dinâmica familiar, falta de atenção por parte dos pais e falta de vínculo afetivo satisfatório. A genética e a convivência com adultos deprimidos também são determinantes para o desenvolvimento da depressão infantil. Crianças que convivem com mães em depressão materna são quatro vezes mais propensas a desenvolver a doença.
Depressão infantil é coisa séria, se diferencia da tristeza do dia a dia pela intensidade, persistência e as mudanças nos hábitos normais da criança. Lembre-se de que a criança não dirá que está deprimida, precisa ser observada e tratada, com psicoterapia em casos mais leves e com auxílio medicamentoso em casos mais graves.
Muitos adultos deprimidos apresentaram episódios depressivos infantis que não foram tratados ou diagnosticados. Quanto mais precoce o tratamento, maior sua eficácia. Ao adiar o problema, maiores as consequências e a probabilidade da reincidência.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |