As leituras deste domingo (8/09) nos relatam as cadeias que prendem a humanidade e o modo de libertação. Há muitas situações da vida que podem sufocar o ser humano: o cansaço e a doença, a surdez e a cegueira de todos os tipos, a incapacidade de se relacionar e de falar. O tempo messiânico evocado por Isaías (Is 35,4-7) e a obra de Jesus mostram como Deus age libertando o ser humano de suas prisões e situações que afetam sua dignidade. A relação entre salvação e libertação é o tema proposto pela palavra de Deus neste domingo. Um tema que atinge o ser humano no concreto da vida.
Podemos ler no texto evangélico (Mc 7,31-37) que Jesus se encontra em um território pagão. Trouxeram-lhe um surdo-mudo, e pediram-lhe que impusesse a mão sobre ele. Jesus o levou à parte, longe da multidão, colocou os dedos em seus ouvidos e, com a saliva, tocou-lhe a língua. Com uma única palavra – “abre-te” – os ouvidos do surdo-mudo se abriram e sua língua se soltou. Jesus liberta este homem das correntes que o aprisionavam.
O gesto de Jesus revela que Deus se compadece de quem sofre. O encontro com Cristo leva aquele homem surdo e mudo a sair do seu isolamento e a estabelecer laços familiares com Deus e com todas as pessoas.
A salvação é libertação que manifesta a presença salvífica de Deus na história. No cotidiano podemos perceber fragmentos de libertação que brotam aqui e ali na face da terra. Cristo se encarnou para que o ser humano pudesse alcançar sua plenitude humana.
Effatá (abre-te) é um grito de libertação que cura e salva. A liberdade de que fala a Bíblia está ligada à totalidade, ao ser, à universalidade, à eternidade e ao amor. E só Deus é capaz disso.
A Sagrada Escritura afirma que o ser humano não pode realizar a salvação por si mesmo. Ele não tem esse poder porque não consegue atingir a profundidade do ser e do amor, a totalidade e a universalidade da experiência, a plenitude da vida. Só Deus pode salvar. Contudo, isto não exclui o homem dos processos de libertação histórica, mas o torna responsável por ser, com Deus, o criador daqueles fragmentos de libertação que testemunham a redenção que só Deus pode realizar.
Depois da cura, aquele homem, antes limitado pela doença, se torna um homem novo. Esta transformação não depende somente de Jesus, é preciso que o homem aceite e deixe que Deus realize o milagre. É preciso fé. É preciso conversão. Esta palavra também é dirigida a nós quando nos fechamos no nosso mundo e não nos deixarmos curar por Jesus. Ele faz as propostas, lança desafios, oferece o seu Espírito que transforma e renova o coração do homem; mas o ser humano precisa acolher a proposta de Jesus e abrir o coração aos desafios de Deus.
No final, as testemunhas também participam e exclamam: “Tudo o que Ele faz é admirável” (vers. 37). Somos levados ao livro do Gênesis: “Deus, vendo a sua obra, considerou-a muito boa”. Aceitar Jesus como o Filho de Deus é converter-se em um ser humano novo, aberto a Deus, aos irmãos e à natureza. Neste contexto os discípulos de Jesus têm a missão, seguindo os passos do Mestre, de libertar a humanidade da mudez e da surdez. Fomos criados para a vida fraterna. O caminho para uma fé madura e autêntica é a abertura a Deus e aos irmãos e ouvir constantemente as palavras de Jesus: “Effatá”, isto é, “Abre-te”.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |