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Nossa sociedade está envelhecendo. Pelas projeções do IBGE, em 2070 os idosos serão a maior parcela da população brasileira. Parece longe, mas esse é um processo já bastante acelerado. O Censo de 2022 mostra que é recorde o percentual de pessoas com mais de 65 anos por aqui (22,2%, contra 4,8% em 1980). Uma notícia que, sem dúvidas, merece ser comemorada do ponto de vista da longevidade. Significa que estamos nos cuidando mais e que avanços na área da saúde (sem contar outros aspectos, como saneamento básico, por exemplo) estão proporcionando uma expectativa de vida melhor e mais longa.
O fator preocupante é que, ao mesmo tempo, a fatia de crianças e adolescentes tem encolhido. O IBGE estima também que o número de nascimentos por ano no Brasil deve ficar cerca de 40% menor em 2070, passando dos atuais 2,6 milhões para 1,5 milhão. E nossa pirâmide etária vai perdendo o formato tradicional, assumindo uma silhueta cada vez mais retangular.
Essa nova dinâmica demográfica acende o alerta sobre a sustentabilidade econômica do público idoso. Com um contingente menor de pessoas em idade ativa, as contribuições ao sistema de previdência pública tendem a ser insuficientes para o pagamento de aposentadorias e pensões. A projeção de déficit desafia as políticas governamentais. Mais do que isso, esse colapso em potencial pode afetar diretamente o nosso bolso em uma das fases mais vulneráveis da vida. Viveremos mais, mas pagaremos (literalmente) um preço alto por isso.
Planejar a aposentadoria se faz, portanto, uma tarefa inadiável. Enquanto isso, apenas 2 em cada 10 pessoas que ainda não estão em idade de se aposentar se preparam financeiramente para esse momento, segundo a 7ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa que a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) realiza anualmente com o Datafolha. Entre quem ainda não está fazendo uma reserva de renda, 58% pretendem começar a poupar e 23% nem pensam no tema.
Outro fato alarmante é que metade da população não aposentada espera que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) componha a maior parte da sua renda durante a aposentadoria. Os recursos devem vir do próprio salário para 17% que pretendem continuar trabalhando, e apenas 10% almejam usar os rendimentos de aplicações financeiras, como fundos de investimento, títulos públicos e privados, ações, câmbio e poupança, para garantir a sobrevivência na velhice. Os planos de previdência privada, que são produtos com o propósito de uso na aposentadoria, tiveram 3% das respostas, empatados com os recursos provenientes de aluguéis de imóveis (3%). Por fim, uma fatia de 14% não soube responder.
Os dados refletem duras realidades do Brasil: a primeira, mais complexa, está ligada a fatores estruturais e socioeconômicos que afetam parte relevante da nossa população. São pessoas que não vão conseguir guardar dinheiro para a aposentadoria. Não posso deixar de pontuar também a realidade da educação financeira no país. O tema tem ganhado relevância ano a ano, mas os esforços ainda se mostram insuficientes para cobrir décadas de carência. Prova disso é que 88% das pessoas que já se aposentaram (aproximadamente 22 milhões de brasileiros em 2023) têm o INSS como principal fonte de sustento. Com um mercado de capitais completo e acessível como o nosso, em que a variedade de produtos de investimento permite aplicações a partir de praticamente qualquer valor, o modelo ideal seria encarar o INSS apenas como complemento de renda.
A dificuldade de planejamento e de organização orçamentária é um traço constante na nossa sociedade. E, em um cenário que se mostra insustentável para a previdência pública em médio e longo prazos, esperar não é uma opção. Precisamos de mais empatia com quem nós mesmos seremos no futuro e entender que as escolhas financeiras de hoje terão impacto direto na nossa qualidade de vida lá na frente.