*César Gomes de Freitas
Em anos eleitorais, como este de 2024, creio que todos nós deveríamos reservar algum tempo em nosso dia a dia para recordar e reler alguns trechos dos sermões do Padre Antônio Vieira.
Grande religioso e fantástico orador, Padre Vieira deixou alguns dos mais extraordinários relatos de sua época e que, até hoje, não perderam sua atualidade. O que é triste, uma vez que mostra que não evoluímos muito como nação.
Vejamos uma pequena amostra de seus escritos extraídos do famoso ‘Sermão do Bom Ladrão’: “Perde-se o Brasil, porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar nosso bem, vêm cá buscar nossos bens”. Alguma semelhança com nossos dias?
São muitos os políticos que continuam nos causando vergonha, com constantes escândalos de corrupção por todo Brasil. A impressão que temos é que ainda é grande a quantidade de pessoas que busca na política apenas uma forma de ganhar mais dinheiro. São pessoas que estão, assim como os descritos no sermão do bom ladrão, buscando apenas melhorar a sua própria vida e não buscando a melhoria da vida da comunidade. Seus interesses são egoístas e não coletivos. Continuamos enfrentando o mesmo problema observado por Euclides da Cunha: “Como é difícil encontrar disposição e boa vontade para servir a esse país”.
Óbvio e desnecessário dizer que existem muitos homens públicos que honram os votos que recebem e que buscam fazer um trabalho digno e probo. Na verdade, são a maioria, que infelizmente acabam sendo confundidos com a minoria que envergonha.
Não tenho e nunca tive filiação partidária. Meus votos não são definidos levando em conta as cores partidárias dos candidatos, mas sim o currículo e o perfil dos mesmos. Coisa de administrador, que define seu voto para prefeito, governador ou presidente da mesma forma como escolheria um gestor para gerenciar uma empresa. Ou seja, levando em consideração suas realizações, atividades, formação, preparo…
Quando escolhemos o gestor de nossa cidade, como faremos este ano, precisamos nos lembrar que iremos colocar em suas mãos o destino de nossa comunidade. Essas pessoas tomarão decisões e efetuarão escolhas que afetarão diretamente nosso presente e nosso futuro. Portanto, a importância do voto consciente é muito grande. Precisamos eleger, seja como prefeito ou vereadores, não pessoas que apenas representem nossas opiniões e crenças ou pessoas que são nossos amigos ou conhecidos, precisamos eleger, sobretudo, pessoas capazes de tomar decisões conscienciosas, conforme nos ensinou John Kennedy.
Encerro a coluna de hoje com a frase de Ivan Teorilang para reflexão: “Pesquise antes e não dê a seu voto uma conotação de cumplicidade, pois mesmo que involuntariamente, é este o sentimento que tomará tua alma quando o amanhã te revelar que tipo de meliante favorecestes”.
* César Gomes de Freitas é professor do Campus Assis Chateaubriand do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Possui Pós-Doutorado pela Universidade Federal Fluminense, doutorado pelo IOC/Fiocruz, mestrado pela UCDB e é bacharel em Administração e Ciências Contábeis. Contato: cesar.freitas@ifpr.edu.br |