Por Paulo Polzonoff Jr.
Guilherme Boulos fez um comício em São Paulo e falou as bobagens de sempre. Mas ninguém prestou atenção, porque uma cantora resolveu roubar (pescou? pescou?) a cena cantando uma versão mequetrefe do Hino Nacional. Com direito a notas inalcançáveis e a ridícula linguagem neutra. “Des filhes deste sole” cantou a moça, para depois estranhamente emendar “és mãe gentil/ Pátria amada, Brasil”. Ué! Não era para ser “Pátrie amade”? Não entendi.
A repercussão foi maior do que eu, vacinado que estou contra esses ridículos da esquerda identitária, imaginava. Entre gargalhadas e perdigotos lançados a cada tsc, tsc, tsc, porém, houve espaço para análises sérias, ainda que um tanto quanto óbvias. Como, por exemplo, a que elaboro neste texto, e que diz basicamente que o uso do Hine Nacional em linguagem neutra só expõe o distanciamento entre a extrema-esquerda e o povo. As coisas do povo. Os problemas do povo.
Porque a extrema-esquerda de Boulos & Cia., ao contrário da saudosa (sim, saudosa!) esquerda-caviar de que fala meu amigo Rodrigo Constantino, não tem aquela pretensão riponga e meio preguiçosa de transformar o mundo numa utopia próspera, pacífica e igualitária. Não! A extrema-esquerda de Boulos & Cia. pretende controlar o mundo e moldar o ser humano de forma que ele se encaixe num ideal utópico e inviável de “perfeição política”. E, para isso, um dos meios de que dispõe a extrema-esquerda é a perversão da linguagem.
Mas é tudo tão dissociado da realidade que ouso dizer: não tem a menor chance de dar certo. O que não significa que não temos de ficar de olho nessa turma de danadinhos totalitários, sempre disposta a aprontar hipocrisias mil. Afinal, um dia também foi ridículo defender abertamente o comunismo e a censura. Mas a gente descuidou e hoje temos um invasor de propriedades como potencial novo prefeito de São Paulo. Coitados dos meus amigos paulistanos.
Fafá
Sempre que a esquerda faz uma k-h-ada, porém, a direita vai lá e – não deixa por menos. Desta vez, foram os olhinhos do deputado e xará Paulo Bilynskyj que brilharam diante da oportunidade de mostrar que a Justiça brasileira não tem mais critério nenhum e julga não de acordo com a lei, e sim de acordo com as conveniências. Pelo menos é o que espero que o tenha motivado a dar esse tiro (de raspão) no próprio pé.
Usando uma lei caduca de 1971, Bilynskyj entrou com uma queixa-crime contra Guilherme Boulos na Procuradoria Geral da República. O argumento é o de que alterar os símbolos nacionais, entre eles o hino composto pelo grande Joaquim Osório Duque-Estrada, é crime. E tudo bem. O deputado (e xará) está no papel dele de fazer e acontecer e chamar a atenção e tentar usar a Legislação existente para, de alguma forma, prejudicar seu adversário. É do jogo. Jogo sujo, mas do jogo.
O problema é que, se for levada a ferro e fogo, a lei evocada por Bilynskyj impediria, por exemplo, paródias do Hino Nacional. Aí não dá, né? Impediria também que o Hino fosse interpretado fora da melodia composta por Francisco Manuel da Silva, conhecido apenas como Chico do Hino. Foi o que aconteceu, aliás, em 1985, quando houve quem quisesse ver Fafá de Belém atrás das grades porque, no cortejo fúnebre de Tancredo Neves, ela fez uma interpretação personalíssima do Hino Nacional, com toda a emoção e melancolia que o evento exigia.
Para a sorte de Bilynskyj, porém, hoje acordei condescendente. Por isso quero crer que ele tenha evocado a lei de 1971 apenas para mostrar a falta de proporcionalidade e de… justiça da Justiça brasileira. Que num dia torna ré (e será condenada; pode apostar!) uma dona de casa e mãe por escrever “Perdeu, mané” naquela estátua feiosa em frente à sede do STF em Brasília – e no outro faz ouvidos moucos para a tosquice politicamente correta da extrema-esquerda de Boulos & Cia. Foi isso, né, xará? Diz que sim, por favor.