Quem já não levou uma fechada no trânsito, presenciou furões de filas ou aguardou tempo excessivo para ser atendido. Essas são situações comuns que facilmente desencadeiam a raiva. Ela é frequentemente vista como uma emoção negativa, algo a ser evitado ou suprimido. No entanto, como psicóloga, afirmo que a raiva é uma emoção fundamental. Pode ser extremamente útil quando compreendida e gerida de maneira adequada. Ela não apenas nos ajuda a identificar quando algo está errado, mas também pode nos motivar a buscar mudanças significativas em nossas vidas.
Quando sentimos raiva, o corpo e a mente estão nos dizendo que algo precisa de atenção. Pode ser que nossos limites estejam sendo desrespeitados, que uma injustiça esteja ocorrendo, ou que estamos nos sentindo ameaçados de alguma forma. Em vez de ignorar ou reprimir esses sentimentos, precisamos escutá-los e entender o que está realmente acontecendo.
Por exemplo, imagine um cenário em que um colega de trabalho constantemente atribui seus erros a você. Sentir raiva nessa situação é uma resposta natural e pode ser o primeiro passo para tomar uma atitude, como conversar com o colega ou com a liderança para resolver o problema. Sem essa raiva, talvez você continuasse a aceitar a situação, causando mais estresse e frustração.
Embora a raiva tenha seu valor, ela deve ser experimentada em limites saudáveis. Saber identificar quando a raiva está passando dos limites é fundamental. Se você se vê com raiva constantemente ou sua raiva é tão intensa que faz perder o controle, isso é sinal de que ela está ultrapassando os limites saudáveis.
A raiva pode atingir as relações pessoais por meio de discussões frequentes, afastamento de pessoas próximas ou dificuldade em manter relacionamentos. Pode ainda, voltar-se contra você, levando a comportamentos autodestrutivos como isolamento, autocrítica excessiva ou até automutilação, ou seja, quando a pessoa causa em si feridas ou cortes.
Há pessoas que cultivam ressentimentos, ou seja, ao invés de praticar o perdão, um excelente bálsamo para a saúde mental, guardam por longos períodos a raiva e isso certamente o impactará negativamente.
Para controlar a raiva, tente perceber o que a desencadeia, refletindo sobre as situações que a desencadeiam e preparando-se para enfrentar situações semelhantes.
Ao invés de suprimir a raiva ou explodir, pratique a comunicação assertiva, ou seja, diga o que está incomodando, se defenda, posicione-se.
As atividades físicas e técnicas de relaxamento também são muito bem-vindas. Cuide com a interpretação errônea das situações. Empatia faz bem.
Compreenda, a raiva não é uma inimiga. Transforme-a em força que nos impulsiona a buscar mudanças positivas e a manter relacionamentos saudáveis. Ao invés de temer ou suprimir a raiva, precisamos aprender a escutá-la e usá-la como um guia para uma vida mais equilibrada e autêntica.
Silvana Pedro Pinto é psicóloga clínica e educacional. Atende adultos e crianças na Clínica Bambini. |