Dilceu Sperafico*
O agronegócio brasileiro vive momento histórico com a inédita e positiva parceria entre produtores rurais e empresas de tecnologia, o que vem contribuindo muito para que agricultores tomem decisões mais rápidas e corretas, com a possibilidade de acompanharem remotamente a aplicação de insumos e até decidirem se está na hora de acionar irrigação na lavoura.
Dessa forma, são milhares as máquinas agrícolas operando no campo pelo País inteiro, fazendo bem mais do que plantar, colher ou irrigar as plantações, ao gerar dados que afetarão positivamente a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, com informações fundamentais geradas e reunidas em nuvem, para a necessária análise técnica.
Dentro dessa nova realidade, diversas grandes empresas do mercado agrícola utilizam a infraestrutura da AWS para construir ecossistemas de soluções, que vão desde a captura de informações através de sensores nos tratores ou no campo, até levar esses dados para dentro do Data Lake, visando a utilização da inteligência artificial (IA) no manejo do campo.
No País já há empresas com milhões de imagens de satélite geradas e tratadas em nuvem, para saber como está a condução de seus milhares de hectares cultivados.
Conforme especialistas, diante dessa enormidade de dados gerados dentro da porteira, o agronegócio percebeu a necessidade de se aliar a empresas de tecnologia para expandir e melhorar suas atividades produtivas. Guilherme Belardo, líder de desenvolvimento de negócios digitais da Bayer para América Latina, relata que a empresa tem mapeado no Brasil 28 milhões de hectares e em todo mundo 90 milhões de hectares, em processo iniciado em 2015, com o desenvolvimento e expansão da tecnologia no agronegócio.
“A gente viu que, por ser uma empresa do agro, não tinha todos os recursos necessários para fazer essa infraestrutura de tratamento de dados. Daí, nos associamos com a Microsoft, que não tem o conhecimento agronômico”, destaca Guilherme. Essa parceria levou à verdadeira evolução da agricultura digital, o que já gerou espécie de “ChatGPT do agro!”. Essa ferramenta vai responder perguntas sobre o histórico de produtividade das diferentes lavouras cultivadas no País. Como exemplo, saber qual variedade de milho obteve resultados melhores ao longo de uma década ou qual foi o consumo de combustível da frota de tratores em determinados períodos.
Com esses históricos será possível decidir de maneira mais precisa em quais insumos é necessário investir mais e em quais são recomendados economizar. O sistema ainda está em fase de prova de conceito, mas suas possibilidades entusiasmam produtores e especialistas, com todos prevendo grandes benefícios compartilhados através de dados seguros. Isso porque a geração desses dados não beneficia apenas o produtor rural, pois impacta também em diversos outros segmentos, como os setores de crédito e seguro rural. Além disso, a agricultura digital viabiliza a aplicação de questões regulatórias e de sustentabilidade.
As seguradoras, por exemplo, poderão elaborar seguros com base nos dados de produtividade ou condições climáticas de área de plantio, ampliando informações fornecidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (CNA). Com essa moderna tecnologia, governos estaduais já estão também avançando na avaliação de registros do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Sem esse recurso moderno a validação manual da documentação demoraria 20 anos.
*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br |