A vida das pessoas e organizações é regrada e delimitada por determinados paradigmas. Um paradigma é um conjunto de regras que definem fronteiras entre o certo e o errado, entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre o que se deve fazer e o que não se deve fazer. No fundo, um paradigma estabelece um caminho de pensamento no qual ficamos ‘presos’ ao que existe dentro das faixas e dos limites permitidos. Ele funciona como um modelo, como um padrão que define o comportamento das pessoas e empresas.
Aqueles que se aventuram a sair fora destes padrões e modelos, mesmo que seja apenas por uma forma diferente de entender e perceber o mundo, são considerados anormais, malucos.
Expressar uma opinião que vai contra o chamado ‘senso comum’ pode causar problemas e gerar antipatia. O professor da UFAC Enock da Silva Pessoa, em seu livro ‘Trabalhadores da Floresta do Alto Juruá” comenta: “Há uma tendência nas pessoas comuns a se acostumarem com as rotinas que lhes são impostas. Pensar o que é certo ou errado em determinadas culturas é tarefa e poucos espíritos lúcidos e críticos, porque envolve um permanente estado de alerta da razão, da vontade e das emoções. Essas pessoas, às vezes, são chamadas de antipáticas por se colocarem contra as ideias vigentes e sacramentadas como corretas. O ser humano comum geralmente não percebe o quanto está dominado por poderes invisíveis, permeados na própria cultura.”.
O estilo de vida, a rotina, o stress do cotidiano faz com que o homem do século XXI perda o hábito de pensar, de refletir, de realizar análises críticas sobre os acontecimentos e fatos que acontecem no nosso cotidiano, sobre as pessoas que nos cercam, sobre os nossos governantes. Já não lemos tanto quanto deveríamos para nos aprofundar sobre essas e outras questões, preferimos a opinião pronta que nos chega pela televisão, Facebook ou grupos de WhatsApp.
O filósofo Immanuel Kant também abordou de forma admirável esse tema: “(…) É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz às vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito da minha dieta, etc., então não preciso de esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis”.
A preguiça intelectual e o triunfo da mediocridade que assolam nossa sociedade atualmente são os responsáveis pela alienação, pela vergonhosa desigualdade e injustiça social que atinge milhões de brasileiros, da falta de infraestrutura, da violência e tantos outros graves problemas. Quero deixar claro que você, nobre leitor (a), pelo simples fato de dedicar minutos de seu dia para a leitura desta coluna, é uma exceção a regra.
Nós precisamos e devemos refletir mais. Pensar e analisar o que acontece em nosso mundo, em nosso país e em nossa cidade, pois só assim poderemos contribuir para tornar nossa sociedade melhor. Precisamos de mais “antipáticos”, de “chatos” que possam nadar contra a correnteza, contra o senso comum, contra as ideias prontas e impostas pelos status quo. Pense nisto!
* César Gomes de Freitas é professor do Campus Assis Chateaubriand do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Possui Pós-Doutorado pela Universidade Federal Fluminense, doutorado pelo IOC/Fiocruz, mestrado pela UCDB e é bacharel em Administração e Ciências Contábeis. Contato: cesar.freitas@ifpr.edu.br |