O tema central deste evangelho está no versículo 27: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”. Jesus passa por um campo de trigo com os seus discípulos e alguns fariseus. Estão se dirigindo na direção da sinagoga para o culto festivo. Os discípulos arrancam algumas espigas de trigo para saciar a fome. Os fariseus consideram isto uma violação da observância do sábado. Jesus lhes responde recordando o que Davi fez o mesmo no sábado quando estavam com fome. Termina sua fala com a famosa frase: “O sábado foi feito para o homem”.
O dia festivo para os judeus – sábado – se refere à obra da salvação. No sétimo dia Deus descansou. É também o dia em que celebram o evento glorioso da libertação da escravidão do Egito e o dia em que Deus fez aliança com o povo de Israel, agora povo de Deus. Torna-se o dia em que Israel celebrava o próprio nascimento como povo livre. Isto exigia um compromisso particular, da parte dos membros da comunidade judaica: traduzir a liberdade adquirida em atitude concreta de justiça e caridade consigo mesmo e no relacionamento com os outros.
Jesus restitui ao “sábado” o seu sentido genuíno: “O sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado”. No sábado ele cura os doentes, liberta os endemoninhados, dá o perdão aos pecadores e permite que seus discípulos recolham as espigas de milho para matar a fome.
Além disso, ele afirma ser o “senhor do sábado”. É ele quem dá sentido à história e a conduz a sua realização plena: a eternidade. Ele mesmo inaugura, com sua encarnação e sua ressurreição, o tempo novo: verdadeiro tempo festivo, no qual o ser humano é chamado a viver o amor na liberdade dos filhos de Deus. Portanto, a sua Páscoa nos faz passar do sábado – o último dia da semana – ao domingo: o primeiro dia que dá sentido a todos os outros.
Domingo – Dia do Senhor, dia da ressurreição. As primeiras comunidades o tornaram o dia da celebração do Mistério Pascal: “No dia do Senhor se reúnam para partilhar o pão e render graças, depois de confessar os seus pecados, a fim de que o sacrífico seja puro” (Didaqué, 14). Sendo dia do Senhor, o domingo é também o dia da igreja: a festa do povo redimido e reconciliado com o Pai.
Cristo colocou o seu dia sob a lei do mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Por isso o preceito de ir à missa aos domingos não pode ser um ato de obrigação. Deve ser um ato de amor a Deus pelo dom do seu Filho Jesus Cristo por nós. No domingo, a comunidade reunida em nome do Senhor, toma consciência de ser um povo pascal: ela confessa a própria fé no Cristo ressuscitado presente no meio dela quando se reúne em seu nome para ouvir sua Palavra e atualizá-la hoje em sua vida. Em seguida, se alimenta do Pão da vida, sacramento de unidade.
A realidade celebrada junto aos irmãos na assembleia dominical é mesma realidade que levamos para o nosso dia a dia. Com a nossa vida cotidiana continuamos a celebrar o mistério pascal: “carregamos no nosso corpo a morte de Jesus, para que manifeste em nosso corpo a vida de Jesus” (2Cor 4,10).
No domingo, o cristão alcança a graça para reconhecer Cristo nos acontecimentos de cada dia e aprende a acolhê-lo na vida para levá-lo aos outros como sinal de caridade.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |