A natureza prossegue surpreendendo e assustando autoridades, lideranças, ambientalistas e cidadãos urbanos e rurais, do mundo inteiro. A catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul neste mês de maio, destruindo mais de 100 mil moradias, matando mais de 160 pessoas e desabrigando mais de 600 mil cidadãos, por mais trágica que foi, se torna pequena diante do fato de cidades inteiras da China estarem afundando no solo ocupado. Conforme especialistas, grandes cidades chinesas, como Pequim, estão sendo engolidas pela terra desde o ano de 2015.
Na verdade, em todo o mundo, muitas comunidades estão afundando lentamente, a maioria delas no litoral, incluindo megacidades tropicais como Jacarta, na Indonésia; e Manila, nas Filipinas; além de Nova Orleans, nos Estados Unidos; Vancouver, no Canadá; e cidades da Holanda. Outras metrópoles que estão afundando, como a Cidade do México e muitas das áreas urbanas da China, estão bem no interior de seus territórios, o que, no entanto, ainda é risco ignorado pelas autoridades e cidadãos.
O problema é especialmente significativo na Ásia, onde vivem cerca de 60% da população mundial e as cidades estão crescendo mais rapidamente. Prova disso é que quase metade das grandes cidades da China, com mais de dois milhões de habitantes, estão afundando em ritmo acelerado. O fenômeno em si, conhecido como subsidência do solo, impressiona ainda mais na China pela sua velocidade, pois esses fenômenos também ocorrem nos Estados Unidos, Holanda e México. Nada menos do que 45% das terras urbanas da China afundam mais rápido do que três milímetros por ano. Ao mesmo tempo, com a cidade de Jacarta afundando, a Indonésia já está construindo nova capital.
Entre as cidades chinesas mais afetadas pelo processo de afundamento, estão Xangai, Pequim e Tianjin. Nada menos do que três mil moradores de Tianjin já foram evacuados de suas casas por causa de um “desastre geológico repentino” ou forma de afundamento rápido, atribuído à extração de águas subterrâneas e perfuração de poços geotérmicos, em seu território no ano passado. Embora o caso de Tianjin seja evento relativamente isolado e extremo, já que a maior parte das regiões afunda de forma mais gradual, sem choques, ambos os fenômenos têm a mesma causa ou a ação humana. É o que apontam estudos científicos.
Levantamentos de pesquisadores, que utilizaram imagens de satélite captadas entre os anos de 2015 e 2022, permitindo rastrear níveis de deformação do solo, analisando áreas de 82 cidades, revelaram que cerca de 40% das regiões observadas sofrem diferentes níveis de afundamento, com intensidades moderada ou grave. Dentro desses recortes, 45% afundam mais de três milímetros por ano, enquanto 16% afundam impressionantes 10 milímetros anuais.
A causa da maior parte do fenômeno está relacionada com a atividade humana, revelando que conforme as cidades chinesas crescem, mais afundam. As diferentes atividades que provocam esse processo são o peso dos edifícios e construções; bombeamento de água dos aquíferos subterrâneos; perfuração do solo para extração de petróleo e outros materiais; mineração de carvão; atividades para produção de energia, como campos geotérmicos; e sistemas de transporte urbano. Já os riscos extras das regiões costeiras estão na localização nas proximidades do mar, o que causa o afundamento mais preocupante, devido ao perigo de alagamentos.
Dilceu Sperafico* é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br |