Neste domingo celebramos a festa da Santíssima Trindade. O Evangelho de Mateus (Mt 28,16-20), que hoje retoma a liturgia, não fala propriamente da Trindade, mas oferece uma fórmula trinitária: “Batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. E falar da Trindade nem sempre é fácil. Mas este texto poderia nos ajudar a compreender algo deste mistério. O que os primeiros cristãos experimentam é a presença do próprio Deus, através de Jesus, a quem reconhecem como Filho de Deus e, uma vez ressuscitado, recebem o seu Espírito que os impulsiona a cumprir a missão que Ele lhes confiou. Esta experiência exprime-se numa confissão de fé, como a que nos é oferecida no Evangelho de Mateus.
Ao falar da Trindade é necessário recorrer a metáforas que ajudem a compreendê-la melhor. Afirmar que o nosso Deus é Trindade é como dizer que o nosso Deus é bem-vindo, é comunidade, é relação, é dom que se dá e se recebe, sai de si mesmo ao encontro do ser humano. Ou seja, não seguimos um Deus fechado em si mesmo, por isso não faz sentido uma igreja com portas e costumes fechados – como diria o Papa Francisco – onde nem todos podem entrar. Não seguimos um Deus solitário, por isso não faz sentido retirar-nos do mundo para encontrar Deus quando Ele está presente, indiscutivelmente, no meio do mundo, em cada pessoa, em toda a rede de relações que podemos estabelecer, incluindo a relação com a criação tão necessitada de cuidado e preservação da nossa parte.
E voltando ao texto de Mateus, vemos como a comunidade do seu tempo reconhece no rito do Batismo uma forma de incorporar novos membros da comunidade e como esse Batismo deve ser feito em nome do Deus Trindade em quem eles acreditam e anunciam. Sabemos que o Batismo é o Sacramento fundamental que nos torna todos participantes do mesmo sacerdócio, profecia e realeza do próprio Cristo. No evangelho, Jesus envia todas as pessoas, ensinando-lhes tudo o que aprenderam com Ele e prometendo-lhes que permanecerá sempre no meio do seu povo. Neste último sentido, o Jesus no evangelho de Mateus não sobe ao céu (este evangelho não relata o evento da Ascensão), mas permanece no meio deles, sustentando o que já havia anunciado desde o início do seu evangelho: eles o chamarão de Emanuel, que significa “Deus conosco” (Mt 1,23).
Hoje precisamos urgentemente de viver a experiência do Deus Trindade, do Deus comunitário que nos fala de uma espiritualidade mais comunitária que individual, de um compromisso mais social que íntimo, de uma Igreja aberta a todos, “sem medo de ser manchado ou ferido”, como tanto repete o Papa Francisco. Certamente, uma Igreja que anuncia o Deus Trindade poderá convocar mais pessoas de todos os lugares para viver o evangelho de Jesus Cristo.
Tornar-se cristão significa ser inserido na relação de amor que circula entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Este é o grande mistério da vida cristã.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |