Dilceu Sperafico*
Sediar a Festa Nacional do Porco no Rolete, o maior evento gastronômico do Paraná, e deter 60% da produção de suínos do Estado, são mais do que orgulho, satisfação e riquezas para Toledo e região. Prova disso é o transplante de rins de porcos em seres humanos. O 1º paciente, com 62 anos de idade, passou pelo procedimento no dia 16 de março e deixou o hospital apenas duas semanas após a ousada cirurgia. O transplante representou marco na medicina e avanço para pacientes que aguardam por doação de órgão para sobreviver.
Foi o 1º transplante bem-sucedido do mundo de rim de porco geneticamente modificado em ser humano vivo em procedimento comandado pelo médico paranaense Leonardo Riella, realizada em hospital em Boston, nos Estados Unidos, onde o profissional atua. “A gente trabalhou meses para que o transplante fosse bem-sucedido. Acho que ver ele saindo do hospital, e ele poder ir para casa com o rim funcionando, foi uma emoção muito grande”, afirmou o especialista. Já a 2ª paciente a receber rim de suíno, no início de abril, no mesmo hospital, foi mulher de 54 anos, em cirurgia também bem sucedida.
Segundo o médico Leonardo, o 1 º paciente foi diagnosticado com doença renal em estágio avançado e já sofria de diabetes tipo dois e hipertensão, além de fazer diálise há sete anos. Ele chegou a receber transplante de rim de outra pessoa em 2018, mas o órgão falhou cinco anos depois. Em 2023, ele voltou a depender de diálise. Na verdade, a fila para receber transplante de rim é longa e só no Brasil são 30 mil pacientes. Já nos Estados Unidos, são 100 mil pessoas aguardando doação do órgão.
Por isso, segundo médicos especialistas, o transplante de rim de porco representou avanço para a medicina e pessoas que aguardam pelo órgão. A proposta da pesquisa é, além de oferecer maior oferta de órgãos e salvar vida de pessoas que precisam de rim doado, propiciar outras maneiras de tratamento, além da hemodiálise. O estudo para o xenotransplante, que é a implantação do órgão de animal em humanos, vem sendo desenvolvida há cinco anos pelo hospital de Boston, em parceria com empresa especializada.
Na verdade, o transplante de órgãos suínos em pessoas vem sendo estudado há décadas pela semelhança entre os organismos dos animais e seres humanos. Mesmo assim, o maior desafio era a resposta do sistema imunológico, que poderia rejeitar o órgão estranho, o que foi superado pela pesquisa. No processo, foram retirados genes suínos que prejudicavam a resposta do corpo humano e acrescentados genes humanos. Além disso, os cientistas inativaram retrovírus endógenos suínos no doador, para eliminar qualquer risco de infecção.
Durante os cinco anos da pesquisa foram feitas várias versões de modificações genéticas até encontrar a que poderia ser implantada em humanos. Com a resposta positiva, a equipe acionou o órgão de regulação norte-americano, que aprovou a realização do procedimento. Após a aprovação da técnica, os médicos receberam o rim do porco e fizeram o transplante. O médico paranaense destacou a importância do procedimento a partir do rim de porco geneticamente editado. A pesquisa visou a compreensão dos mecanismos de regulação imunológica e o desenvolvimento de novas terapias para promover a tolerância de órgãos transplantados. Com isso, a suinocultura de Toledo, do Oeste e do Paraná amplia e diversifica seus benefícios para pessoas de todo o mundo.
Dilceu Sperafico* é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao |