*César Gomes de Freitas
Escrevo este texto sob o inevitável impacto das imagens e comoventes histórias da tragédia que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul.
Como já foi dito e repetido poderíamos lembrar o título de um dos livros de Gabriel Garcia Márquez, “Crônica de uma morte anunciada”, para dar nome aos lamentáveis acontecimentos, que se juntam ao longo histórico de tragédias naturais recentes daquela região. Neste caso são dezenas de mortes anunciadas, pois a ocupação desordenada de áreas consideradas de risco as margens dos rios multiplicam o número de mortos e desabrigados. Até o momento que escrevo são contabilizados 32 mortos.
Claro que é lamentável o número de vítimas, principalmente quando entra na casa das dezenas, e de desabrigados, que são milhares. As comoventes histórias de sobreviventes que perderam familiares, vizinhos e bens materiais emocionam. Porém, o que mais chama a atenção nestes momentos é a capacidade de mobilização da população em busca de ajudar ao próximo. As toneladas de alimentos e materiais que chegam de toda parte são fontes de esperança em meio ao caos.
Em momentos como esse, é comum as autoridades tentarem arrumar um bode expiatório para tirar a culpa das próprias costas. São Pedro, coitado, geralmente é quem recebe maior parte da responsabilidade por tragédias assim.
E não há como negar que tragédias nestas dimensões não tenham mais de um culpado. É certo que choveu demais, porém as prefeituras são responsáveis por permitir a ocupação de áreas de risco. Casas e prédios são construídos nas encostas e nas várzeas dos rios e riachos multiplicando os riscos de desabamentos e inundações. O governo do Estado e o Governo Federal devem promover ações de prevenção, uma vez que todo mundo sabe que é melhor prevenir do que remediar. Agora são anunciadas as liberações de recursos, é como comprar a tranca depois da porta arrombada, aqui representada pelo incalculável prejuízo material e pelo choque por dezenas de mortes. A ‘economia’ de milhões em prevenção gera o custo de bilhões e bilhões na reconstrução e recuperação das áreas afetadas, sem falar do incalculável valor da perda de vidas humanas.
O maior drama é que as tragédias causadas por eventos climáticos extremos estão cada vez mais recorrentes, repetindo-se ano após ano. Vale lembrar que quando Al Gore produziu o documentário ‘Uma Verdade Inconveniente’, relata o acontecimento inédito, à época, da ocorrência de um ciclone extratropical no sul do Brasil. Era algo sem precedentes na história. Al Gore creditava aos efeitos do aquecimento global a ocorrência daquele fenômeno e alertava que aquela seria nossa nova realidade. De lá para cá, quase todos os anos assistimos a ocorrência de tais fenômenos meteorológicos.
Ocorrência de fenômenos meteorológicos extremos estão ocorrendo em todo país. Neste ano, várias cidades do Acre tiveram enchentes históricas. As cidades de Brasiléia e Epitaciolândia ficaram com mais de 70% de suas casas em baixo das águas.
Tais situações afetam produção agrícola, comércio e produção industrial. Ninguém está imune e nenhuma região está isenta de passar por tais problemas. Portanto, vamos ajudar o Rio Grande do Sul!
*César Gomes de Freitas, é professor do campus Assis Chateaubriand do Instituto Federal do Paraná. Possui Pós-Doutorado pela Universidade Federal Fluminense, doutorado pelo IOC/Fiocruz, mestrado pela UCDB e é bacharel em Administração e Ciências Contábeis. Contato: cesar.freitas@ifpr.edu.br |