José Pardinho Souza (*)
“E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios no campo: eles não trabalham nem fiam.” Evangelho de São Mateus 6.28
Se analisarmos um pouco a realidade que nos cerca, vemos que um sentimento muito presente é a ansiedade. Somos cercados por muitas perguntas pelo nosso futuro, pela nossa sobrevivência, enfim, pela nossa vida. Toda situação política, econômica e social que nos cerca e nos dá insegurança, nos deixam angustiados. Diante de tantas medidas e desmedidas dos governos, guerras, desigualdade social, violências e outras situações que nos desesperamos sem saber o que nos espera amanhã. Afora toda esta situação nacional e internacional, somos ainda atingidas por angústias, ansiedades e inseguranças bem pessoais. O texto do Evangelho de Mateus nos fala sobre nossas preocupações e ansiedades. Jesus fala de que não devemos andar ansiosos, quanto ao que haveremos de comer, beber ou vestir. Em contraposição à ansiedade, Jesus nos traz exemplos da natureza. Devemos observar as aves dos céus. Elas não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. Devemos observar também as flores do campo. Elas não trabalham, nem fazem roupas, mas estão sempre belas e formosas. Se Deus cuida tão bem das flores do campo que, hoje estão bonitas e amanhã murcham e desaparecem, quanto mais cuidado Deus não terá de nós? Quando imaginamos as aves e as flores tudo parece tão fácil e bonito! Dá vontade de ser uma flor ou uma ave! Logo pensamos em sombra e água fresca! Será que devemos então ficar despreocupados, de braços cruzados, esperando que Deus faça tudo por nós?
O nosso texto continua e nos traz a proposta para a nossa vida, cheia de ansiedades e preocupações. A sua resposta é buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas serão acrescentadas. Enquanto não tivermos o Reino de Deus como prioridade para a nossa vida, estaremos preocupados com aquilo que vamos comer, beber ou vestir. A ansiedade e a preocupação de querer ter sempre mais nos escravizam e a escravidão não é a proposta do Reino de Deus. O Reino de Deus é liberdade, justiça, igualdade, vida. Buscar o Reino de Deus é buscar o essencial para a vida e a justiça. Não podemos nos conformar com este mundo. O Reino de Deus não consegue conviver com as contradições que nos cercam. Devemos buscar e lutar para que este Reino de Deus possa se tornar uma realidade em nosso meio. Somos desafiados a deixar sinais deste Reino, para não precisarmos mais viver escravos de nossas preocupações e ansiedades, mas para que possamos viver na liberdade, na paz, na justiça e na vida plena que o Reino de Deus propõe.
(*) Filósofo e teólogo – professor de filosofia, antropologia e história, Professor da Rede Estadual de educação. pardinhorama@gmail.com |