2024 será o Ano de Oração em preparação ao Jubileu de 2025 “Peregrinos na esperança”, tempo para assinalar os primeiros vinte e cinco anos do século XXI. O evento nasce de uma feliz intuição do Papa Francisco (fruto de outro Ano Santo da Misericórdia, que decorreu entre 2015 e 2016) que acentua a missão da Igreja em anunciar o Evangelho a todos e que a todos acolhe.
2024, será uma grande sinfonia de oração. Oração, em primeiro lugar, para recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, para escutá-lo e adorá-lo. Oração para agradecer a Deus tantos dons do seu amor por nós e louvar a sua obra na criação. Oração como via mestra para a santidade, que leva a viver a contemplação inclusive no meio da ação. Em suma, um ano intenso de oração, em que os corações se abram para receber a abundância da graça, fazendo do “Pai Nosso” – a oração que Jesus nos ensinou – o programa de vida de todos os seus discípulos.
O caminho será iluminado pela Palavra de Deus que – como ensina a constituição conciliar Dei Verbum – não é apenas o conteúdo de um livro, a Bíblia, mas é realidade viva, bússola que orienta, companheira de caminho, alimento constante do coração e da alma. Enfim, a Palavra possibilita um encontro com Cristo, caminho, verdade e vida.
No evangelho de João, Jesus nos convida a permanecer na Palavra. O evangelista João situa esta frase de Jesus no contexto de uma disputa com os judeus que começaram a segui-lo, mas que a certa altura não gostaram das suas palavras ao ponto de entrar em polêmica com ele. Em seguida, Jesus afirma: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).
Liberdade e verdade. Estamos verdadeiramente no coração da pós-modernidade. Com a sua carga de reivindicações, desejos revestidos como direitos, autodeterminações antropológicas, tentativas de viver como ser humano preso dentro de si mesmo e fechado a qualquer transcendência, abandonando inclusive qualquer regra ética. Com as consequências que estão à vista de todos, tanto ao nível das relações interpessoais como, em maior escala, nas relações entre os povos e países. Uma liberdade, portanto, desvinculada da Verdade, distante da relação com o Criador, que se reduz a um puro e simples fazer o que se quer. Neste caminho encontramos muitas pessoas que produzem a guerra, a violência porque buscam seus próprios interesses em detrimento do bem comum.
O beato Carlo Acutis observou que nascemos originais e muitas vezes nos tornamos fotocópias. “Permanecer na Palavra” é exatamente o oposto desta reivindicação dessa “liberdade”, que acaba por se tornar escravidão do pecado e às vezes dos outros, especialmente quando “o homem que não acredita mais em Deus acaba acreditando em tudo”.
Jesus, porém, promete aos seus discípulos de ontem, de hoje e de sempre: “Sereis livres na medida em que permanecerdes na minha palavra”. O que significa permanecer na sua amizade, caminhar junto com Ele pelo caminho de uma caridade concreta que o reconheça no rosto dos irmãos, especialmente dos mais necessitados, confiando-lhe a vida mesmo à custa de pagar pessoalmente em termos de energia, tempo, carinho e até recursos financeiros. Em essência, ficar com Ele, no momento da Cruz, para permanecer para sempre à luz da Ressurreição. Quando a nossa humanidade viverá para sempre no abraço do Amor Trinitário, que já se manifestou com a Encarnação de Jesus. “Peregrinos na esperança” para recompor nossas relações na esperança e confiança como sinal de uma humanidade nova e ressuscitada.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo Diocesano de Toledo |