O mercado brasileiro de insumos agrícolas biológicos viu um aumento de vendas de aproximadamente 30% em 2023, movimentando cerca de R$ 4 bilhões, de acordo com dados da CropLife Brasil, entidade que representa a indústria de insumos. O setor tem passado por um crescimento considerável, consistente e recente, que especialistas apontam estar relacionado ao “momento de experimentação” de produtores.
Seja por motivos ecossustentáveis ou econômicos, a procura por soluções que usem agentes biológicos ao invés de químicos para proteger lavouras tem aumentado. O mercado ganhou mais um impulso com a implementação do Programa Nacional de Bioinsumos e pela busca por uma produção sustentável de alimentos. Obviamente, toda essa efervescência refletiu em outros setores, que têm aproveitado essa expansão, entre eles o da engenharia.
Os bioinsumos trazem uma novidade para o agro. São microrganismos usados para combater pragas, insetos e fungos. Onde antes seriam usados defensivos químicos (cada vez mais combatidos, com países proibindo seu uso), são implantados agentes biológicos que não deixam resíduos nem tem passivos ambientais. A redução de químicos tem importantes impactos ambientais. O uso de bioinsumos tem sido estimulado até pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, como fator relevante para solução da crise global de alimentos a longo prazo.
“As aplicações de biológicos na agricultura são diversas”, comenta o engenheiro de bioprocessos Eduardo Leite. “Temos no mercado produtos usados como biofungicidas, bionematicidas, bioinseticidas promotores de crescimento, entre outros. Os bons resultados atraem cada dia mais produtores: segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), em 2023 foram registrados 15 novos produtos biológicos para agricultura”.
O Brasil conta hoje, de acordo com o MAPA, com mais de 100 matrizes fabricantes de bioinsumos registradas. “O que observamos no mercado atual é a busca por novos produtos sempre priorizando a eficiência no campo”, afirma Leite. São Paulo lidera o ranking com 47, seguido pelo Paraná, com 18, e Minas Gerais com 13. E é também nesses estados que outro mercado relacionado tem mostrado significativo crescimento: o de engenharia.
Projetos que levem em consideração o uso de agentes biológicos têm sido mais frequentes. “Já desenvolvemos muitos layouts industriais em áreas como fertilizantes e defensivos químicos”, explica José Carlos Gerolin, diretor técnico da mineira Gerolin Engenharia, citando os produtos químicos usados para combater pragas das plantas. “É relativamente recente, mas significativa, a busca por projetos pensados para fábricas que utilizarão agentes biológicos”, complementa.
Desafios
Por ser recente, o setor de insumos agrícolas biológicos ainda tem pouca legislação. São necessários cuidados específicos no trato de bioinsumos, porque seu uso indevido pode levar a desequilíbrios ambientais. Alguns projetos de lei estão em tramitação na Câmara dos Deputados, por exemplo, demonstrando o avanço do setor – e os diferentes cuidados necessários. “Como estamos falando de microrganismos, temos um grande cuidado em relação à biossegurança, e nosso layouts são pensados em cima disso”, explica Gerolin.
As grandes empresas precisam criar novos padrões de sanitização, limpeza, processo e segurança, diferentes do que se faz hoje para os agentes químicos, seguindo as necessidades particulares dos bioinsumos. “Todo nosso trabalho é baseado em reduzir ao máximo a chance de contaminação dos bioprocessos, então temos projetos, por exemplo, com salas limpas nas quais estão instalados filtros de até 0,22 micras, dispostos em um layout otimizado com barreiras de segurança biológica”, destaca o engenheiro citando os equipamentos de retenção de partículas contaminantes.
Uma das tendências é o “on farm”, no qual os bioinsumos são produzidos na própria estrutura agrícola em que será utilizado. Porém, esse formato requer uma atenção especial dos fornecedores de inóculos e meio de cultura para as unidades ‘on farm’, para o monitoramento do desenvolvimento dos microrganismos, assim como suas concentrações ideais. José Carlos destaca ainda que esse formato de produção, sem os cuidados e acompanhamento de um profissional habilitado não é o mais indicado, uma vez que pode apresentar mais riscos de contaminação.
Existem poucas empresas no Brasil fornecedoras de bioinsumos para produções “on farm” que possuem capacidade técnica para produzir e monitorar o desenvolvimento biológico nas propriedades. Por isso, as diferentes etapas de proteção de um layout são necessárias, e as formas mais seguras ainda são as de buscar outros formatos diferentes para a produção “on farm” que assegure a eficiência de uso.
Questões legais serão decisivas para o avanço tanto dos bioinsumos quanto da engenharia especializada no setor. “O Ministério da Agricultura e Pecuária ainda trata muitos bioinsumos como se fossem defensivos químicos, mas existe uma diferença enorme entre um produto com microrganismos e um defensivo convencional”, completa o engenheiro.