Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas iniciamos o Tempo da Quaresma que termina na Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa). Seu objetivo é nos preparar para a grande celebração da Páscoa do Senhor. Por isso é um período que privilegia a escuta da Palavra de Deus, a conversão, a memória do batismo, a reconciliação com Deus e com os outros.
A Quaresma é um período marcado no tempo, 40 dias, que, para nós, se torna tempo de Deus. Ele nos chama para nos recordar que somos seus filhos. Ele nos quer perto dele. Por isso a Quaresma é um tempo de reflexão profunda, de olhar para dentro de nós mesmos, de nos confrontarmos com nossas fragilidades e, ao mesmo tempo, nos abrir para a graça transformadora de Deus.
Três atitudes fundamentais nos acompanharão durante a Quaresma: a oração, o jejum e a esmola. A oração nos ajuda a penetrar no nosso próprio interior e ouvir a voz de Deus. O jejum nos torna mais simples e humildes, conscientes de nossas fragilidades e mais compreensivos com as fraquezas dos outros. Enfim, a esmola-caridade nos coloca em sintonia com nossos irmãos, para perceber suas necessidades e ajudá-los através da partilha. É um período de ascese onde cada um em sua comunidade vai em busca do que é essencial para viver; esvaziando-se para deixar espaço para Deus e os irmãos. A ascese nos coloca na direção da solidariedade; o ordenamento de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros.
Neste 1º Domingo da Quaresma, também chamado Domingo das tentações (Mc 1,12-15), Jesus se prepara para iniciar sua missão e o texto evangélico quer enfatizar que não será uma tarefa fácil. Por isso, Jesus é conduzido ao deserto, lugar de provação e, ao mesmo tempo, de revelação da misericórdia de Deus. Foi no deserto que o povo de Israel experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi ali que Deus propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; foi no deserto que Israel foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus.
Neste período somos convidados à conversão: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova”. A conversão é crer no Evangelho que é Jesus Cristo, Ele é a boa-notícia de Deus à humanidade. O encontro com Jesus, certamente nos conduzirá à conversão, retorno, voltar ao caminho da verdadeira vida que se encontra em Deus. Deus tem um plano de salvação e Jesus vem para realizar este plano que será concluído na sua Paixão-Morte-Ressurreição.
Todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. Nesta Quaresma de 2024. A Campanha da Fraternidade é inspirada na Encíclica do Papa Francisco, “Fratelli tutti”. “Fraternidade e amizade social” é o tema e o é lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). A Campanha da Fraternidade, dentro do caminho penitencial da Igreja, propõe durante a Quaresma desse ano, um convite de conversão para a amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejam irmãos e irmãs, todos fraternos e tudo fraterno, numa fraternidade universal.
Que a Quaresma seja um caminho de transformação interior, uma oportunidade de renovação espiritual. Ao final deste período, que possamos emergir não apenas com corações purificados, mas também com uma compreensão mais profunda do amor redentor de Deus.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |